sexta-feira, 24 de agosto de 2012
mecanismo orgânico
a verdadeira vontade que satisfaz
o ego sujo e imundo
deita-se cabeças e colos em ombros perdidos
perdoa-se o sangue que escorre dos olhos e narinas
a corrente de ar prende respirar tanto lentamente
o que a falta faz de fazer de conta
qualquer solução emulsificada
cadeias carbônicas deixadas para trás
de mim restaram os benzenos
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
alcoólica felicidade
a verdade que encosta mão geladas afagos
mordidas e dentes cariados gritam por um pouco de pudor
o que se foi embora ficasse para trás
nada era suficiente ou importante
importaria o cuidado e a vontade da morte
o medo que cala a boca e acalma
um delicado toque suave e o rosto estremece
faminto pelas mentiras e doses de rum
até o chão não ser limite e a queda certeira
uma vez a mais como sempre fez
fez de conta estar por perto
e ser o que demais se não sorrir
onde estaria a felicidade?
cansada de esperar em quartos e vozes erradas
amores ou outra palavra qualquer
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
o saborear dos ratos
aparatos delicados entalho ternuras febris
em armaduras de linho e cobre
o corte de faca que serra os punhos
as verdades suicidas jorram feito sangue
alimento-me dos minerais
querer demais e ter nada não ter
o caminho encontra sempre onde acabar
em troncos e pedras pontiagudas
escravo de uma singela amargura
nada ter ou ser alguém se mesmo fosse
seria o que afinal?
quantas horas perdidas em desencanto
palavras doces acusam as cáries
a culpa é de quem colocar
primeiro as mãos
depois toda a fragilidade aparece
destilada em taças de vidro
se fingir pudesse ser
muito diferente do agora
a sede que mata transborda
e os ratos fazem a festa
sirvam-se o precioso banquete
foram as carnes e o desespero entalado na garganta
a melhor parte fica para depois
do coração seus átrios e ventrículos
lembranças sempre morrem no final
rascunhos precários
por que trouxeste esta dor?
a mim pertencia pouco demais
ao descaso e desuso desilusão
que engano se falta de atraso
falta de hora e de vontade de começar
arriscando um sorriso homeopático
fado em pequenas lembranças
as poucas amarguras em bolsas ecológicas
gastamos a natureza e dela a morte
natureza morta desintegrada
concreto e rabiscos de tinta sintética
não se for esperar o suficiente
espera o singelo obrigado
até amanhã
não amanheceu
o sol de tão frio morreu
o dia não chega nunca
e já são cinco da manhã
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