terça-feira, 25 de setembro de 2012
meio-fio
olho para os dois lados antes de atravessar a rua
o semáforo desdenha seu reflexo avermelhado
gotas de sangue espalhadas pelo chão
o choro dos pombos e da falta de migalhas
na calada da noite
as vozes que falam mais alto
gritam berram esperneiam
tantas palavras rabiscadas com unhas postiças
e ninguém para ouvi-las
não há carros ou mendigos ou abraços
rostos passam correndo
para onde foram as despedidas?
longe demais
no fim das contas
a calçada é a única companhia
terça-feira, 18 de setembro de 2012
estirpe beatnik
se a verdade fosse ao menos
encarregada de consigo aos pedaços e canseiras
costas largas e ombros frágeis
empunhar a navalha de fio cego
olhos vendados e as mãos suadas
taças de vinho sobre o pano manchado de sangue
o que a boca teria a dizer
as narinas de fumaça o pouco ainda do ultimo cigarro
a luz apagada nada faz parecer noite
sem sombra de dúvidas e sol
amanhecer fica para depois
o sufoco que tosse e ri
do próprio retrato parado no espelho
reflexo
convexo opaco mal acabado
embriagar em doses praticamente letais
um pouco mais talvez
cortariam
mostrariam caminhos
a frente além de passos largos
os ossos que tremem de frio e medo
resquício de uma vontade passageira
que nada acontece ou acaba
ou existe por um motivo
motivo de lágrimas e pudores forjados
lembra que ao andar no vale das sombras
temerás apenas a si mesmo
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
roda da fortuna
a mesma descrição de sempre deferindo fracassos
indulgências e ternuras disformes
ao pouco de fraqueza que ostento em pernas
nada demais irrisório e desesperado
apático sorriso desmiolado sem olhos e braços
os erros são mesmos e sem vontade
e a vontade do vômito volta a garganta
leiam-se mãos e o futuro assombrado
mais um farsante em meio a tantos rostos cansados
todos mentirosos e metidos a besta
e o que resta é suficiente
ou que desnecessário o seja
seria de qualquer forma
o mesmo de sempre
olhos esbugalhados
o faz de conta a falta de vontade
a verdade mascarada em pequenos detalhes
luxuria que esconde em ódio e vingança
vingar as lágrimas e linhas tortas
a beleza que se foi e perdeu o rumo
mandou flores no dia seguinte
onde sobraram as horas perdidas
o estomago vazio e a boca cheia de orgulho
segurando gofo entre os dentes
e se acreditasse em destino
o que faria por aqui?
nada disso saberia dizer ao certo
os ventos gelados em nossas narinas
acreditariam em qualquer respirar
as mãos tocassem as mãos e não dizer adeus
mas sei que temos razão para partir
motivos de se estar por esse lado de cá
onde estão todos os outros olhares?
faz de conta e reconta carneiros mortos
suas cabeças penduradas a sangrar
e ainda assim o não dormir
aqueles olhos esbugalhados
sonhar dói demais
cortina de ferro
e se fosse a televisão ligada
o som calado e quantas palavras
o que dizer sem nada na ponta da língua
os trejeitos e mecanismos de defesa
calados estaríamos de qualquer maneira
faltamos com o orgulho e o que demais
nada nem umas folhas amassadas de papel
o poema dos mortos descansa
quantos passos andar ou enterrar-se debaixo do solo
a terra sagrada arde em falta d'água
abro a janela e aqui dentro
as cortinas são os melhores esconderijos
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