quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

novela das oito


mudaria para depois de amanhã o apocalipse
mas isso não faria sentido
nem seria tão descolado
o mundo é pequeno demais para uma segunda chance
temos espaços vazios e algumas idéias
ser ou fazer tudo certo dessa vez
eu vejo através de uma lente de aumento
todos os minúsculos espaços não preenchidos
formam um tipo de imagem assimétrica
não significa nada demais
mas ainda assim queremos fazer direito
e nem somos tão legais
com essa história de sustentabilidade
aquele momento chato
se torna um tanto insuportável
tentamos carregar nas costas
o peso de nossa falta de responsabilidade
mas fazemos parte do núcleo problemático
aqueles que morrem ou caem no esquecimento
a história não tem mais espaço para nós
gastou todas as folhas de papel
com os vagabundos e mentirosos
que já nasceram velhos
deixaram um pouco de sujeira 
que varremos para debaixo do tapete
mas ela ficaria ali tão bem
decorando as quinas e beiradas

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

retalhos denim


tudo era aquilo que eu poderia pedir
ou não recusar
não recusaria afinal
guardaria para sempre
melhor sairmos antes da chuva passar
não temos endereços ou relógios
um maço de cigarros
todo o tesouro que pudermos carregar
um isqueiro
algumas moedas
tudo que podemos roubar
perdemos a hora 
e o que passado foi 
não faria mais efeito
e só nessas horas 
em que eu deito no chão 
sem deixar cair uma gota
tenho que acostumar
por alguns minutos
com o barulho de vidro se quebrando

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

por que junto sem acento


naquele guarda-roupas velho
esquecido no canto de lá da parede
mofo e naftalinas baratas mortas
elas faziam de tudo para sair
e a moldura na parede esqueceu 
de todas as fotografias reveladas
não eram preto e branco
esse tempo já passou

por que aquele frasco de remédio
sempre muda de lugar e esvazia aos poucos
alguns dias mais rápido que os outros
o frenesi e o fiasco de se tentar sorrir um pouco
nem era funcional ou importante
exercitar os músculos da face
só com cigarros e copos cigarros copos

e algum motivo em alguma carta perdida
para levantar e jogar o cobertor de lado
no chão ou arrastando um pouco no chão
não por inteiro
sair e calçar os chinelos
sem tirar as meias
muito trabalho para poucos resultados
sair e levantar e fazer um café
simplesmente aproveitar o dia
nada demais
depois deitar e dormir de novo
sem tirar as meias

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

esfera de vidro cheia de água e neve artificial


pequeno mundo imperfeito em detalhes
modos e cuidados largados nas calçadas
as noites e os mesmos efeitos anestesiantes
as horas incontáveis de palavras escritas
o grito amargo preso indefeso
no que fazer ou pensar em dizer
os sorrisos e todas as ilusões
em um frasco refratário esterilizado
em cima da estante
na prateleira mais alta
um mundo inteiro de brinquedo
que neva quando virado de cabeça para baixo

domingo, 2 de dezembro de 2012

desconstruindo a insônia


se dormir fosse no mínimo importante
as horas de sono fariam todo o sentido
diferentes eram sonhos e vontades
realidades e fatos e desacatos
os medos descarados e o chão que mergulhamos
em toda cordialidade
nossa falta de sossego crônica
daqueles momentos que voltam e ficariam para sempre
se não fossem apenas momentos
seriam todos os outros significados de qualquer outra palavra
ainda assim teríamos onde dormir e acordar
se fosse preciso ou bastante pertinente
dormiríamos até de tarde

o último fumante da terra


nas impossibilidades mais descuidadas
que aprendo minha falta de habilidade
encosto nas fáceis banalidades do acaso
acendo um cigarro e espero qualquer sinal
um isqueiro nas mãos certas
pode ser muito mais do que um simples isqueiro
pode ser uma fábrica de fogo
uma fábrica de sonhos
até quando acabar o gás

boca boca boca


come com os olhos
fala com os cotovelos
sorri um sorriso
que sozinho por si



sorri