quarta-feira, 21 de agosto de 2013

o banquete dos ácaros

ouvimos rumores por cima dos muros
nas casas dos outros olhos aflitos
cospe da boca toda a sujeira

o seu lugar é aqui conosco

espelhos de nós somos outros tantos medos
medo do escuro e das luzes acesas
trememos os dedos e marcas na pele
alimentamos ácaros e culturas ocidentais
somos frutos vertebrados amargos
respiramos o cheiro do ralo
para lá em que corremos
fugindo do estrago

criamos bonecos de barro
para disfarçar os espasmos
tememos um deus de ganância e desespero
construímos qualquer identidade
não somos filhos de ninguém
vendemos nossos corpos a céu aberto
por que para nós
só resta o conforto do inferno

terça-feira, 13 de agosto de 2013

a luz fria de baixo consumo da poesia sem valor semântico

acordado em cafeínas e cigarros baratos
rastejo pela lama dos meus sapatos
guardados
escondidos
estagnados de tanto andar em círculos
desprezando o céu sobre minha cabeça
o melhor caminho
é o que apresenta os piores resultados
sou fruto ingrato
da mãe natureza morta
em copos plásticos e espelhos portáteis
invejo meu reflexo em dentes dos outros
tantos sorrisos inacabados

em legitima defesa
mortificamos as palavras
os amores santificados
todos os meios amargos de sobreviver

nos olhos vermelhos
escondo os farrapos
já estive por esses lados
jesus leu sobre o que dizemos dele
gostou dos advérbios
perguntamos sobre nietzsche
sobre a nuvem de fumaça
o canto magnifico dos roedores
dos mortos de fome
o metálico som de sangue descendo a garganta

estivemos mortos por todo esse tempo

não gostamos da escuridão
temos medo dos monstros atrás do armário
debaixo das camas
das esquinas perfumadas de amônia

fomos nós que costuramos facas em nossas mãos

todos os argumentos acabaram
crucificamos nossas melhores verdades
até os ossos cansarem
era demais estar ali por tempo que fosse
ainda teríamos nos matado

guardamos as unhas para depois
ainda assim saímos ilesos
delicadamente indefesos
paradoxos perfeitos
toda a sujeira foi empurrada
para debaixo do tapete

onde fazemos cama
só dormiremos de manhã

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

antiguidades esquecidas debaixo da cama

viver até ficar velho
estar velho
falar velho
ser sombra de velho
o tempo some
morre
perde a memória
leva pra casa
toda a discórdia
da morte
da hora
beira da cama
o esquecimento
lençóis
camas trocadas
comprimidos coloridos
preto e branco
para poder ir embora
ou ficar ensinando
todo o não saber de velho
toda falta de esperança
conheço cada perda de lembrança
em sorrisos ocos e apagados
dormindo
sonharei com a morte
dormirei acordado
acordado

relógio de parede

parar com isso e aquilo
começar tal e coisa
o relógio destemido
depressa
apressa
cansa
fala alto
some nas sombras do dia
morre 

da mesma forma
que qualquer morto

terça-feira, 6 de agosto de 2013

memórias póstumas de um sonhador

não tenho melhores maneiras de sobreviver
vou morrer em um dia chuvoso qualquer
arrastando os pés descalços
toda a sujeira que escondo nos tapetes
sacolas plásticas e sorrisos amarelados
nos dedos manchados de cigarro
o fundo do poço é onde guardo o escarro
o abrigo de todos do lado de fora
os cães famintos e seus olhos saltados
vermelho escuro a cor do sangue pisado
desaparecendo debaixo do veneno
que escorre dos lábios calados
não deixarei rastros
nunca mais serei lembrado

máquinas fotográficas analógicas

a poeira que nos cobre os ossos
esconde frágeis sorrisos
o frio que navalha
retalha a gengiva e sangue que corre
desejamos morrer nos dias impares
a saudade de sofrer e achar graça
temos ternura de sobra e falta de ar
excesso de riscos respostas anotadas
em blocos de papel reciclado
esquecidos em alguma estante
em qualquer lugar do outro lado

cheiramos a cigarros enrolados
pelas mãos que nos afagam
apagando os rastro de quando estivemos aqui
de uma primeira vez
de um tempo em que lembrar faz mal
temos muito medo
e nenhuma arma
o inferno fica logo atrás da porta

desafiando o orgulho
aprendemos a voar de cabeça para baixo
tocamos o céu alaranjado
respiramos boca a boca
desejando sol para amanhã
por que agora choveremos
 
para escorrer bueiro abaixo

suicidas apaixonados
fotografam o melhor caminho
em janelas e novos resultados
buscando as desculpas desnecessárias
repetindo os barbitúricos erráticos
problemáticas inviáveis
sonhos acabados de começo
pés em lama
e nada de choro e colo para alguns como nós

sombras falantes

demos olhos errados descobertos
arrancados das cavidades
glóbulos vermelhos em total descompasso
dançam em volta do fogo
amor aos pedaços
mordidas no lábio e dedos amáveis
calorosas horas que passam
incendiadas
verdades as que não enxergam
caem pelos cantos
dentro das veias
nossos encantos de fadas
fadados ao desejo do acaso
não ainda existe nada mais deste lado
que valha a pena
manter mesmo assim tão perto