sábado, 30 de julho de 2011

perdição

perdi você de vista, e quando o tempo se fez fácil demais de entender, procurei de todos os lados, errando a cada passo e tremendo de medo com o mesmo sentimento de fraco. gostei de sofrer por você, sofri demais e dei conta das perdas e cada passo que errava, pensei demais se não era para seguir ou esperar um sinal de nossa perdição selecionada sorrir para mim e oferecer ajuda. atrasei os mesmos fatos contrários que deixamos pelo caminho apertado em circunferências quase exatas e exalei palavras que você não se ofereceu a ouvir. de tanto tempo exato, carta amassada ousada, ousadia planejada, em meio a tantos tormentos, amargos versos pequenos que relatam o quanto você não se importou eu perdi.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

noite

noite serena noite
dama de preto
que afaga e  assombra
conforta os mais profanos
pesadelos meus
segredos soturnos rasteiros
cópula do amor e do medo
noite inquieta noite
dona da sorte incerteza
voz oculta que sussurra o abismo
a queda imprecisa e lunática
transborda de dor e tormenta
e me acolhe em perturbado sossego

com o frio escaldante do escuro
escondendo a sombra nos olhos
me guia por onde me perco
sedutora incansavelmente voraz
me chama me morde me prende
donzela de solidão
beija-me a face
escorre o perigo dos lábios
penetra em minha alma dormente
e depois do gozo me deixa

terça-feira, 26 de julho de 2011

esquecimento

sádica inércia temporal
enfática em costumes passageiros
permeia o aneurisma sintético
me congela por horas a fio
até quando me esqueço
que o esquecimento
benção se faz perceber
escolho nada mais... eu,
fraquejo em forçados anseios

na mudança do desconforto
alimento ódio do mesmo
canso das repetições simbióticas
faço nada jamais...
escolhi minhas imperfeições
guardei em dores herméticas
ridicularizando a aflição
de nunca olhar-me no espelho

a muito de longe avisto o medo
talvez morrer muito menos cedo
no impaciente minuto espero
espero sozinho em segredo

segunda-feira, 25 de julho de 2011

veneno

nuances frigidas rondam impacientes
aleijada compaixão oprimida
destrincham até os ossos mentiras
pecando com cautela dos loucos
sempre que abro mão dos erros
entregando em pormenores segredos
a merda que floresce de nós
a muito que nada mais cresce
morremos aos poucos por dentro
implorei por um pouco de luz
escalando os velhos lamentos
manchando as paredes infames
em lipotimias contrações ordenadas
cauterizei feridas vulgares
deixando as dores sorrirem
espalhei o veneno da água
em pequenas doses diárias
sobre as poucas horas que restam
extorquindo do nada o fim
e do fim sobraram os restos

domingo, 24 de julho de 2011

Rastros

quando a noite se espalha
deixando para trás as sombras
tememos por nossos narizes
queimamos até a base
onde deixamos rastros visíveis

já passamos por aqui antes
quanto mais cedo melhor
sempre costumávamos nos enganar
e se fossemos melhores
talvez não tivéssemos morrido de sono

a pressa é a pior inimiga
já que não sabemos por onde começar
o silencio nos apavora
e nenhum ruído irá nos confortar 

sábado, 23 de julho de 2011

tempos em tempos

o filho do tempo
bateu em minha porta
o que queres aqui?
não tenho nada a dizer
(digamos que seja simples assim)
voltarei depois
a insistência assusta
respiro devagar
mas ainda sinto a fumaça

por que tantas escolhas?
certamente o errado é coerente
com o fato contrario ao oposto
mesmo assim ainda persisto
com o resultado anamórfico
desisto...

estou velho e já não falo mais
o tempo passa depressa demais
talvez para mim ou para todos
não saberia responder

tento ocupar o meu espaço
inevitavelmente longe daqui
amor  (cansei dessa palavra)
espero um pouco, quem sabe?
não preciso de você?
talvez precise de verdade

fumei tantos cigarros
uns atrás dos outros
apressados cigarros baratos
anestesiando a ansiedade
o que fazer?
fuja comigo
e vamos fumar mais.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

primeira imagem

a melhor programação diária
em televisores monocrômicos
esculhamba a verdade
já passamos da idade de sonhar
sobre o efeito imediato segundos após
a injeção fumegante penetrar
sinceramente não enxergamos salvação
no que dizem por aí
perdemos o tempo e os cabelos
que caem sem hesitar
o mundo não é mais o mesmo
ainda assim acreditamos em mudanças
mudanças não exatamente radicais
pequenas trocas de lugar
favores desnecessários
ouvimos a musica
e fizemos nossos deveres de casa
estranhamos a programação
de ostensiva ameaça ao pensamento
talvez um deus que nos ajude
não perdemos por esperar