tocaram as primeiras notas
um passo atrás do outro disse a bailarina
vamos dançar pelo chão molhado
manchamos nossos vestidos floridos
não poderíamos nos casar
os assentos enfileirados presos devidamente confortáveis
regulagens moduláveis de altura
o preço que se paga por um aquecimento automático
deixe seus pés sobre a cabeceira e reze por mim
eu costumava repetir me disse ao pé do ouvido
você não sabe saltar
não sabe pairar no ar
tua graciosidade conta as piores mentiras
e deixa de lado os sapatos acolchoados
impacto
aquelas marcas radioativas estão em todos os lugares
as dobradiças de chumbo e portas de vidro
separam de nós a excepcional realidade de se acidentar
correr riscos os sabores que escorrem pelo canto da boca
em formas e cores de mel e conhaque gelado
não devia dirigir assim
mas só sobreviveria longe demais daqui
cantando a música suave e amanteigada
perfeita para testes de colisão
nove vezes catatônica
se fizermos as contas
colidimos oitenta e uma vezes e ainda não sabemos dançar
domingo, 21 de outubro de 2012
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
delicadas doses
benzodiazepínicos e a promessa de uma vida feliz
sorria para as câmeras o céu está lindo demais
dentes para fora da cama o pé descalço e as meias
as veias saltando pela janela aberta que venta
acalma o couro usado de nossos lençóis
os cigarros calados se apagam dedos gelados
lança perfume perfurante cauterizante
carregado de remorsos
seis tiros de mágoas e palavras de amor
o peito aberto afago chora e sorri
lembra das horas perdidas de sono alucinadas
embebidas em éter e fluidos corpóreos
as doces mentiras anêmicas as delicadas doses de morfina
pule pela janela e saia correndo
perca o sentido e as direções as estações
o trem já vai partir
partir
repartir
retribuir
querer demais
sonhos ou esperança
só tentar dormir mais cedo
antes da hora
antes de cair da cama
antes de ir
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
fragmentos teóricos do cansaço estrutural
contentes com seus pedaços de pão
as piadas nem sempre são as mesmas
mas o circo vagueia
de cidade em cidade e bate portas e espalha cartazes coloridos
são tantas cores diferentes
tantos apetrechos gravatas e abotoaduras douradas
o reino da ignorância é o paraíso perfeito
(es)colhido à dízimos e promessas ocas de santo
santo de madeira cara de pau
andam de ônibus para não gastar os calçados
vendendo um pedaço do céu
mas as nuvens não estão lá
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
a desordem dos românticos
uma arma na mão esquerda
a que propósito se diz adeus?
fumaça que cheira transparente
nenhum tom de cinza
onde foi parar a porra do céu?
estamos todos na mesma merda
merda inacabada maldita
a desordem dos românticos
que se exploda em mil pedaços
bum!
que barulho é esse?
deve ser o cachorro
cão que ladra não morde
morre de fome
anda em círculos antes de sentar
gostava tanto de sentar
mas não era o suficiente conforto
que nos deixasse assim
deitados pouca roupa nenhuma luz
queimados os restos espalhados de pano no quintal
sorriamos com um pouco do canto da boca
enquanto os dedos perfurados
acusavam as pobres roseiras
foram tantos os cuidados
demasiados de propósito
sem por que ou com acento
circunflexo convexo
é só o reflexo no espelho
não tem nada mais aqui
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