sexta-feira, 29 de junho de 2012

por acaso


o desconhecido fracasso
no semblante de fracassado
arrastando consigo
sandálias e sufoco amargo
querendo o pouco do resto
do lixo do rato
o amor concebido
em forma de coito
sujo e envergonhado
o reflexo do corpo a nudez
acalma em lucidez
ver de longe o afago
estragado
medo de perder
perder o fôlego
não era tanto assim
descaso e dedos ranhuras
unhas roídas e portas
caminhos e lágrimas
perdidos tempos desnecessários
horas passadas e verdades
de fato o pouco que resta
ficou por aqui
por acaso

sexta-feira, 22 de junho de 2012

imunda castidade


deixaram de lado restos
rostos cansados de sorrir
força que se faz desnecessária
veias e cavidades abdominais
seu expurgo fracassado
olhos que enxergam além
no abismo desgraçado
a vontade de se perder
em meios e mentiras e descasos
vozes sem dor
pelo que é pouco
não satisfez as saudades
peso em consciência de outro
no corpo banhado de fel
a imunda castidade 
minúcias e sussurros
e dedos cobertos de cal


-


havia algo aqui
perdido
escondido
havia

segunda-feira, 18 de junho de 2012

bocas vulgares

as vozes insistiam em calar
quanto medo e lábios ressecados
deixa fora de alcance
a verdade absoluta
olhos vendados
não se fossem mãos
ofegante desconhecido
disse-lhe sem pudor
a roupas esquecidas em casa de outros
não quisera sorrisos ou cigarros
o que a quietude fizera perder
o rejeitado desejo
que escurece o céu de bocas vulgares
guarda chuvas magoas
água turva o veneno que escorre
bebemos demais do pouco
que o outro tinha a oferecer

terça-feira, 12 de junho de 2012

faces


o cansaço não é mais uma síndrome
importa-se ou não ter onde dormir
deitar-se-ia em escadas e recortes de jornal
queria olhos outros vendo a tudo redor
remelas guardavam-lhe a cegueira
teria pouco medo de cair
no que pudesse demais ser
ávido em escolhas errôneas 
endorfina e emoções sintéticas
resguardadas em falta de pudor


salva-me a pele e rostos


guardai-vos em cobertores e segredos
o profano intelecto corrompido
pela falta da vontade de viver

sexta-feira, 1 de junho de 2012

cru


ao que lembraram
a mente estagnou-se
em poças de água e fel
sentiram o cheiro das mentiras
dentes podres e amarelados
correndo perigo
correndo em direção ao abismo
não existe fim do caminho
buscando a salvação desesperada
o inferno é conforto que basta
o que há de comer?
os músculos da face
contentariam com o pouco
restos e pedaços largados de sufoco
cigarros e dedos imundos
catando a merda que esconderam
diante dos olhos famintos
por um pouco de cuidado e lágrimas
esqueceram de como chorar