terça-feira, 19 de novembro de 2013

pausa infinita para um descanso

sobraram espaços em branco
e as pegadas se foram com o tempo
os ponteiros não perdoam
perdemos todas as horas
possivelmente observando
o quanto inútil é o relógio
nos divertimos andando em círculos 

parando por alguns momentos
por que amamos descansar

pausa para um descanso

Carrego em uma das mãos
a serenidade que inventou o caos
o medo da coragem
da luz e de toda a claridade
que prega os olhos 

e desdenha do enxergar
a paz que instiga a guerra
o sangue de nossa garganta
que insiste em cantar o sufoco
o sossego e nada demais

poema sobre o preço exorbitante dos cigarros

o fruto do vosso ventre 
anda de madrugada
fuma cigarro barato e transa
morre de medo e de fome
santa maculada
transformada em calor de fumaça
mordomia dos poucos
que sorriem do estrago
do amargo gosto
de rasgar o meio do peito
do nosso corpo semifechado

kit de sobrevivência dois

tenho uma cama de solteiro
uma assinatura de tevê a cabo
um vídeo game e alguns livros
e pouco espaço
quase espaço para mim
no meu mundo não tem armário
guarda-roupas ou estantes
me sinto seguro
sem nenhum criado-mudo
só gavetas e incensos
bastam

ela

Guardar-te-ia em cabides
amarrados aos cabelos
pontuais que seríamos
arrumaríamos cedo
sapatos
o que houvemos aflitos
dedos mágicos
retratos em branco
tons pastéis
répteis
singelos quadrados
guardados esmeros
ocupando toda a superfície
de nossa estante

kit de sobrevivência

tenho um gato de estimação
um isqueiro
uma caneta nanquim
e nenhum sono
tenho todo o mundo em minhas mãos

linguagem corporal

foram despercebidos sorrisos
crimes imaculados
inocentes pecados
condenados ao acaso
a noite acaba tão depressa
e ainda assim não estamos a sós
seguros
em nosso abrigo confortável
somos o silêncio
berrado
calado
silêncio
sagrado

a melhor forma de se esconder uma verdade

Amar é crime quando inconfessável
perpétua prisão de desamparo
nas serenas fugas do acaso
amar é inviável
nas marcas de giz no estofado
sintético e desfigurado
uma linha que separa o estrago
o amor é morte quando inalcançável

o destemido orgulho de seguir em frente

era difícil o caminho a seguir
frente destemido correremos sentados
cansados e pés afobados de sentar
apague as luzes temos um mundo a temer
morreríamos de medo e um pouco de sede
saciados da vontade de acabar
em orgulho aos piores resultados

reflexões sobre o horizonte de expectativas

escalou o muro que o impedia de seguir em frente
agarrou-se em reentrâncias
e pequenas aglomerações vegetais
para que pudesse sentir-se um pouco
só um pouco mais seguro
sentou-se na parte superior
olhou atentamente
observou
e nada lá havia

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

tinta nanquim

chegamos onde ninguém pôs os pés
estamos farrapos
maltrapilhos
mal tratados
sorrimos um pouco
nossa ignorância conforta
era mais do que pudemos desejar
jamais era tudo de fato
eram vontades e mentiras
fomos felizes
soubemos usar a combinação
de elementos químicos necessários
para fabricar felicidade
depois morremos por dentro
saciando a fome dos invertebrados

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

amanhã de manhã

somos aqueles olhos fechados em cima da estante
nos aquecendo em fumaça de cigarro
por tudo aquilo que não vimos
me calo a boca e quieto cale-se
não precisamos de todo esse barulho
nosso mérito é o ruído


cercados de outros caminhos errados
abençoados somos filhos do acaso
oramos a deus e todos os seus pecados

ermos as nossas cabeças cortadas
servem de abrigo para ideias inacabadas
temos nossa vontade e muito sono
temos cama
e nenhuma vontade de dormir

o salvador não nos espera de braços abertos
somos toda a forma de felicidade
concentrada em potes bem fechados
somos o amanhã de manhã


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

o banquete dos ácaros

ouvimos rumores por cima dos muros
nas casas dos outros olhos aflitos
cospe da boca toda a sujeira

o seu lugar é aqui conosco

espelhos de nós somos outros tantos medos
medo do escuro e das luzes acesas
trememos os dedos e marcas na pele
alimentamos ácaros e culturas ocidentais
somos frutos vertebrados amargos
respiramos o cheiro do ralo
para lá em que corremos
fugindo do estrago

criamos bonecos de barro
para disfarçar os espasmos
tememos um deus de ganância e desespero
construímos qualquer identidade
não somos filhos de ninguém
vendemos nossos corpos a céu aberto
por que para nós
só resta o conforto do inferno

terça-feira, 13 de agosto de 2013

a luz fria de baixo consumo da poesia sem valor semântico

acordado em cafeínas e cigarros baratos
rastejo pela lama dos meus sapatos
guardados
escondidos
estagnados de tanto andar em círculos
desprezando o céu sobre minha cabeça
o melhor caminho
é o que apresenta os piores resultados
sou fruto ingrato
da mãe natureza morta
em copos plásticos e espelhos portáteis
invejo meu reflexo em dentes dos outros
tantos sorrisos inacabados

em legitima defesa
mortificamos as palavras
os amores santificados
todos os meios amargos de sobreviver

nos olhos vermelhos
escondo os farrapos
já estive por esses lados
jesus leu sobre o que dizemos dele
gostou dos advérbios
perguntamos sobre nietzsche
sobre a nuvem de fumaça
o canto magnifico dos roedores
dos mortos de fome
o metálico som de sangue descendo a garganta

estivemos mortos por todo esse tempo

não gostamos da escuridão
temos medo dos monstros atrás do armário
debaixo das camas
das esquinas perfumadas de amônia

fomos nós que costuramos facas em nossas mãos

todos os argumentos acabaram
crucificamos nossas melhores verdades
até os ossos cansarem
era demais estar ali por tempo que fosse
ainda teríamos nos matado

guardamos as unhas para depois
ainda assim saímos ilesos
delicadamente indefesos
paradoxos perfeitos
toda a sujeira foi empurrada
para debaixo do tapete

onde fazemos cama
só dormiremos de manhã

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

antiguidades esquecidas debaixo da cama

viver até ficar velho
estar velho
falar velho
ser sombra de velho
o tempo some
morre
perde a memória
leva pra casa
toda a discórdia
da morte
da hora
beira da cama
o esquecimento
lençóis
camas trocadas
comprimidos coloridos
preto e branco
para poder ir embora
ou ficar ensinando
todo o não saber de velho
toda falta de esperança
conheço cada perda de lembrança
em sorrisos ocos e apagados
dormindo
sonharei com a morte
dormirei acordado
acordado

relógio de parede

parar com isso e aquilo
começar tal e coisa
o relógio destemido
depressa
apressa
cansa
fala alto
some nas sombras do dia
morre 

da mesma forma
que qualquer morto

terça-feira, 6 de agosto de 2013

memórias póstumas de um sonhador

não tenho melhores maneiras de sobreviver
vou morrer em um dia chuvoso qualquer
arrastando os pés descalços
toda a sujeira que escondo nos tapetes
sacolas plásticas e sorrisos amarelados
nos dedos manchados de cigarro
o fundo do poço é onde guardo o escarro
o abrigo de todos do lado de fora
os cães famintos e seus olhos saltados
vermelho escuro a cor do sangue pisado
desaparecendo debaixo do veneno
que escorre dos lábios calados
não deixarei rastros
nunca mais serei lembrado

máquinas fotográficas analógicas

a poeira que nos cobre os ossos
esconde frágeis sorrisos
o frio que navalha
retalha a gengiva e sangue que corre
desejamos morrer nos dias impares
a saudade de sofrer e achar graça
temos ternura de sobra e falta de ar
excesso de riscos respostas anotadas
em blocos de papel reciclado
esquecidos em alguma estante
em qualquer lugar do outro lado

cheiramos a cigarros enrolados
pelas mãos que nos afagam
apagando os rastro de quando estivemos aqui
de uma primeira vez
de um tempo em que lembrar faz mal
temos muito medo
e nenhuma arma
o inferno fica logo atrás da porta

desafiando o orgulho
aprendemos a voar de cabeça para baixo
tocamos o céu alaranjado
respiramos boca a boca
desejando sol para amanhã
por que agora choveremos
 
para escorrer bueiro abaixo

suicidas apaixonados
fotografam o melhor caminho
em janelas e novos resultados
buscando as desculpas desnecessárias
repetindo os barbitúricos erráticos
problemáticas inviáveis
sonhos acabados de começo
pés em lama
e nada de choro e colo para alguns como nós

sombras falantes

demos olhos errados descobertos
arrancados das cavidades
glóbulos vermelhos em total descompasso
dançam em volta do fogo
amor aos pedaços
mordidas no lábio e dedos amáveis
calorosas horas que passam
incendiadas
verdades as que não enxergam
caem pelos cantos
dentro das veias
nossos encantos de fadas
fadados ao desejo do acaso
não ainda existe nada mais deste lado
que valha a pena
manter mesmo assim tão perto

terça-feira, 23 de julho de 2013

abrigos nucleares

não lembrávamos mais de como sentir dor
ainda assim acabaram os analgésicos
um amontoado de memórias
caixas de papelão e mordaças
amamos a todos que apareciam
oferecendo um pouco de conforto e luxúria

queremos o corpo de qualquer deus
em frascos os que enfeitem prateleiras
temos poeira e o nascimento de outro salvador
era tudo aquilo que podíamos carregar

apodrecíamos debaixo do mesmo sol
com nossas carcaças salgadas
lambendo os beiços
tremendo de frio
ostentando um bocado de medo
do escuro
 
este que poderia ser o único abrigo

não temos muito o que reclamar
desistiríamos
cuspiríamos
cobriríamos nossos corpos
com a vergonha de não querer despertar
abrir os olhos
nossos olhos brilhantes
que varreriam distancias imensuráveis

não tememos a sombra do outro
tudo é tão limpo e imperfeito
as vidraças e abraços forçados
os beijos e jeitos de andar
queríamos o melhor caminho
transaríamos e deixaríamos
 
nossos restos espalhados pelo chão
pedimos a chuva e ela veio
afogando a todos os que nos olhavam
com seus semblantes vulgares

um pouco do nosso sangue

era desejo que baste
e matariam por isso

antes do anoitecer
arrancaram-lhes as cabeças
um a um

e nenhum ao desespero
lhe trariam os filhos
nem choro nem berro
nem os sonhos profanos
as belas imagens
paisagens
um punhado de flores nos bolsos
o perfume de onde devemos voltar

segunda-feira, 22 de julho de 2013

onde termina o amanhã

o mundo é muito perigoso do lado de fora
guardamos o melhor para depois
somos crianças perdidas em tantas vozes
as vozes dos velhos que esqueceram o que dizer
nossos dentes ficaram pelo caminho
muitos açúcares e riscos
soubemos nos acidentar
vendemos energia e impulsos nervosos
serotonina em seringas contaminadas
bocas sujas e cabelos mal cortados
nossos destroços são os olhos e lembranças
a preguiça e quanta felicidade engarrafada
disposta em prateleiras empoeiradas
não mexemos em nada
somos a própria cena do crime
imagem e semelhança
nos espelhos que mentem a todo o tempo
e temos tanto tempo a perder

terça-feira, 16 de julho de 2013

extratos vegetais

todo aquele gosto amargo
descia pelo ralo
pelo canto dos olhos atentos
temos muito cuidado
e poucos lugares onde esconder
o abismo
responde com seu hálito lúgubre
vamos embora para casa
nos aquecemos em jornais
onde todos deixaram seus corpos enfileirados
mãos atadas em troca de conforto
trocados verbos palavras erradas
destinos não ligados
nada dessa baboseira de acaso
a cada pedaço arrancado
da nossa pele
largados os cacos deixados
pelo caminho
fazemos rastros e rostos
bocas e caras
deveres
teríamos qualquer outra coisa a fazer
nosso manto sagrado
entrelaça
nos dedos manchados de carvão
monóxidos e extratos vegetais
falamos em línguas e vozes tantas gritadas
sinais de fumaça
somos um mundo inteiro
de luz apagada
e falsos retratos

sexta-feira, 12 de julho de 2013

breve ensaio sobre o ego parte III

essa tosse presa na garganta
cantaram a chegada do rei
o momento de desistir é agora
tenho medo da desilusão
viver um proposito barato
a sombra e água fresca
quero sentir prazer imediato
não me preocupar com isso
quero sentir lamber beijar

como o reflexo no espelho
sonhar angústias de um futuro próximo
pretérito imperfeito
o acaso dos momentos ordinários

vender minha alma ao primeiro que passar

cair e deixar de lado o ferimento
aprender a andar

antissépticos e contraceptivos
todas as armaduras de defesa
todos os lados necessários
um quarto apertado nos fundos do quintal
a vida eterna e a noite
a sordidez que desnuda os olhos
as mãos imundas e corpo cansado
esperando desesperando
querer ainda todo o resto do mundo

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Bossa Nova

Famintos por conhecimento
Os impulsos nervosos gritam pela janela
Somos os ouvidos do mundo
Não temos música
Nem sequer
Dança para aquecer os pés
Entendemos sobre sentimentos
Correntes elétricas
Memórias adquiridas
Ainda temos muito tempo
E como é difícil decidir
A melhor maneira de morrer
Queremos braços que confortem
Afastem as dores no peito
A falta de ar
Ritmo tempo ritmo
Damos um passo de cada vez
A um horizonte de expectativas
Repleto de arrependimentos
Sabendo

(Somos tão inteligentes)

Que não poderíamos estar mais felizes

A divina física quântica

O enorme espaço tempo conceito
Desencadeia a morte lenta e dolorosa
Viver com todo tipo de...
Resquícios de uma sociedade imoral
A maturidade cobra um preço bem alto

Recém-salvos de nós mesmos

Resumos rabiscados a sangue
Travestidos de seres pensantes
Criamos nossos próprios demônios
Em frascos hermeticamente vedados
Cremos em mentiras mal contadas
Conto de fadas e monstros
Abocanhando a maior parte
Da mão que nos alimenta

Aos olhos que se abrem
Não perguntamos nada demais

Um dia ainda encontraremos respostas

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Velas aromáticas

somos imagem e semelhança
acendemos velas de cheiro
aromaticamente
delicadamente
reflexo sufixo hermético
toque e recolha os pedaços no pelo chão
gostamos do reflexo no espelho
ainda temos algumas migalhas
não perderíamos o caminho de volta
somos realmente gratos pelo sossego
as vozes ainda insistem em dizer quem somos
escolhemos o mais difícil dos resultados
as horas perdidas de sono
nossos devaneios em segredo
por trás da tolerância medíocre
de quem nos quer por perto
louvamos um deus de brinquedo
com nossos cálices em riste aos céus
voltemos de encontro ao começo
ónde a humanidade
rastejará aos nossos pés

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Breve ensaio sobre o ego parte II

alma de poeta é o caralho
tenho alma de fumante
de beber na rua da amargura
sou de horas perdidas e noites de sono
de carne e fragrâncias vagabundas
relógio falsificado pendurado na parede
caindo aos pedaços
despedaço
eu já não choro há muito tempo
não tenho vocação para viciado
nem amo tanto o trabalho

serei esquecido quando morrer
e ainda assim não sou lembrado
não inventei porra nenhuma
escondo no bolso
tantos dedos amarelados
reclamando deliberadamente a fumaça

na hora de ir para casa
sempre esqueço o caminho de volta
e não me dou bem com atalhos

sempre fico um pouco mais
e se for extremamente necessário
eu durmo na calçada

Oração para abrir os caminhos

louvamos a nossa imagem no espelho
somos semelhança e desespero
medo irremediável do desconhecido
milagrosamente providos de inteligência
nossas cabeças de merda e medo
planícies serenas do esquecimento

não precisamos de desculpas ou preocupações
o mundo ainda é o mesmo de antes
temos salvação e um pedaço do paraíso
e pra lá aonde vão às certezas
esperanças perdidas

a nicotina perdoa os descrentes
os velhos e as tosses
noites
pigarros
queremos nuvens e um sol onipresente
desgraçando os corpos de todos no caminho
rasgados ao meio

temos duas caras
a mesma moeda nos compra e nos vende
obtemos os melhores resultados
ainda assim não escaparemos do inferno

quinta-feira, 13 de junho de 2013

fábrica de adubo orgânico

era um pouco mais de cuidados e horas perdidas
sempre em frente diziam os envelhecidos
amargamente em suas camas forradas de jornal
a corja dos ratos começou a sua cantoria
o som dos povos do outro mundo debaixo de nós
o roer estalado estraçalhado dos buracos abertos
as feridas veias e ossos

a carne corroída
suplica o perdão do deus subterrâneo

vontade teríamos de ficar até onde a mão nos guia
lamentar o medo do tempo
e não ter qualquer coisa de valor
que nos satisfaça perder

o banquete está servido
não morreremos de fome nem sede
dependemos de um conforto lamentável
injetável o sangue e gosto de ferrugem
nossa garganta ainda implora um pouco mais
fumaremos muitos outros cigarros
aprendemos nossas primeiras palavras
ensaiando a vida eternamente
prontos para o incansável
complexo
aparelho digestório dos vermes

# nova cara # atualização de blog

A partir de hoje o blog mudará de cara. 

cansei do jeito antigo, da cor da letra antiga... 

recordar é viver?

então... os velhos ficarão da mesma maneira, pois não tenho saco de editar tudo...

breve ensaio sobre o ego parte I

guardo o tempo em um corpo fechado
que não entra moscas
boca fechada
cala-te boca
lembra-se dos versos cagados
reclamo o que tenho satisfeito
o desejo amargo de ter desejos
a hora da morte
beira da cama
a queda
até onde enxergam os olhos
cansados de acreditar em si mesmos
desesperadamente acompanhados do medo
do escuro
do sossego
a falta de vozes e cartazes luminosos
o ser ou não ser ninguém
não ter nada para fazer
e para sempre
todo sempre
sempre continuar a ser
o retrato de alguém
que não conheço

Águas-vivas imortais

Não temos defeitos
Não tememos a morte e sorrimos para ela
Dançamos em volta dos corpos caídos
Desesperados por um pouco de compaixão
Somos frutos infecundos
De todas as mentiras do mundo

Guardadas em estantes e pilhas de ossos
A culpa por deliciar a boca em vaidade
Não há nada de errado por aqui

Consertamos os vazamentos e perdemos a chave
Desejamos um pouco mais de segredos mal contados
Temos tanto a esconder de todo o resto do mundo
De tantos rostos que escolhemos mascarar
Somos o que não querem que sejamos

Não podemos morrer
Negociamos nossas almas
Em troca da imortalidade
Deleitamos no veneno jorrado
Brindando o prazer maldito
De sermos eternamente jovens

quarta-feira, 5 de junho de 2013

senso de moralidade contemporânea

todos nós temos nossos próprios abismos
lugares seguros onde podemos
esconder nossos brinquedos defeituosos
nossa cara metade cortada ao meio
o mundo de todos os momentos
giramos tão depressa
em nossos próprios eixos
brilhamos em nossas vestes fluorescentes
dentes brancos e sorrisos para qualquer um
passando do outro lado da rua
movimentando a nós 
cansavelmente
procriaremos um paradigma imperfeito
fruto de fezes e medo
na sarjeta no escuro desejo de ficar
um pouco de abraços apertados e adeus
matamos a lua e enterramos seu cadáver
onde nossa moral 
achou lugar
não temos nada a perder
e tudo que ainda temos para ver
é um pouco de felicidade momentânea
não compensa os resultados
ainda ficou muito dos restos para depois
seguramos a mão de pastores famintos
que devoram ovelhas e lobos
deixaram um extenso rastro de sujeira
que usamos para lavar nossos rostos
de tantas maravilhas arquitetadas
próprias do ventre de outros
a sociedade nunca foi nosso pertence
deduzimos a verdade que ainda temos pela frente
tentando ganhar tempo suficiente 
e escolhemos ainda assim esquecer

terça-feira, 4 de junho de 2013

constituição primária

com olhos contaminados
vermelho
cor do manto que nos cega
distanciamos as verdades que acolhemos
estampadas em recortes de jornal

acenamos adeus
nunca mais
não temos lugar para ficar
nossa casa é de rua e noite
gastamos nossos cérebros
brincando de deus

somos feitos de outros
cacos e retratos falados
da boca pra fora
o céu está maravilhoso

os traços foram para sempre
não podemos controlar
morreremos engasgados na moralidade
que não nos deixa
voltar para casa

lugares não recomendados para guardar segredo

atenção aos decrépitos espalhados pela rua
soltaram os cães famintos sobre nossas carcaças
o que melhor nos descreve
daqui para frente tudo vai piorar
o medo da vida eterna
e uma bala ricocheteada em nossos dentes
um buraco aberto deixa toda a compaixão
perder de vista e viver às cegas
gota a gota duas vezes ao dia

cercas eletrificadas 

me eletrifique
me eletro mate de fome
minha boca está cheia de vontade
teu sono me aprisiona
ficaremos para depois de amanhã
e nunca mais encontraremos o caminho de volta

somos arremessados como uma pedra
expostos pedaços crus de nós
deixados para acalmar os olhos amedrontados
descem pelo ralo

desaparecemos por completo
cabeça e idéias vagas
o vazio acolhe nossos herdeiros

sem sombra de dúvidas
abençoamos o sol
para assim acordar mais uma vez qualquer
nenhuma forma segura de correr
nenhum lugar confortável para nos escondermos

o fogo queima
cheira a carne em brasas
o solstício dos sorrisos não gastos
usamos pouco de nossa felicidade
e servimos de alimento para o mundo

terça-feira, 28 de maio de 2013

unhas postiças

o roer das unhas estalava pelo quarto escuro
não tinha medo da poeira
dos fungos crescendo incessantemente
a natureza dos atos
os profanos apóstolos em suas caixas de metal
o roer das unhas entranhava na madeira oca
era o aberto da janela e a corrente de ar
calor que sufoca e morde os lábios

em cima de todos os instantes
o alvorecer de nossa ternura
acaba onde o desprezo decide por onde devemos ir
restaram diferentes meios de sobrevivência
um pouco de cuidados e abrigo para os olhos

abstento dos sorrisos mais puros
não carrego comigo o sossego
ainda assim não tenho culpa de nada
nossas mãos eram pequenos detalhes

o mesmo conceito ainda se aplica
estamos todos com medo
posso morrer por ele
podemos matar todos pelo caminho
com nosso orgulho e facões afiados
armas de fogo e munição suficiente
a vida eterna e a desesperada esperança
obriga-nos o acordar cedo

quinta-feira, 23 de maio de 2013

os direitos e deveres de quem fugir de casa


os assassinos falharam mais uma vez
notícias coladas nos muros alertam os olhos cansados
desatentos cuidados dos pequenos requintes de viver ao relento
a chuva ainda cai a noite toda
mesmo que não apareça por aqui
derrama de cima da cômoda
na cabeça dos outros que pensaram em chegar primeiro
tiveram vontade 
e os resultados bastariam por alguns dias
reciclamos enquanto isso o veneno
o choro e a mesma cara de sempre
usamos tanta maquiagem
ainda não sabem o que somos
não sabemos como chegamos e partir é o mais adequado
estar nos mesmos lugares e esperar mudanças
esperar uma resposta em um manual usado
nosso preço ainda não pagamos
mas os famintos não perderam a esperança
telhas de zinco nos confortam até a próxima estiagem
nossos cigarros caros reclamam apagados
a uma infinidade de rostos
para podermos sair de casa amanhã