sábado, 31 de março de 2012

feições imperfeitas

avistou
em cortina de remelas
e cansaço
o mundo que lhe fez
malvadezas e minuciosidades
estatelando-se chão
cautelosamente
perdendo fôlegos e trejeitos
agregando conhecimento forçado
enforcou-se pescoço
temendo medo a morte
desacordando sonhos
fosse querer demais
em bastante nunca tocou
aqueles sorrisos
desejos bastardos
de pouco caso e sexo
selva de carne e restos
andou aos beirais
alimentando precipícios
moscas e desgraçados
bebiam de sua saliva
em cara estampada
desdenhou o acaso
salvando em partículas desordenadas
pequenas doses de saudade
da época em que sabia cantar
dos pés que tocavam o ar
agora carregado
irrespirável fumaça
das doses baratas
de esquecimento

dis-fórmula poética

vez a olhos meus disseram
que poesia se constrói
em análises matematicas
conjunto ao subjuntivo
carregada de tropos linguisticos
que a poesia é de concreto rígido
cimentos e tijolos ordenados
imagens contextuais
fatos lógicos e raciocínio
sempre os mesmos adjetivos
sentidos reprimíveis
atrele a importância
da escolha certa de palavras
em arames farpados
desenha o melhor caminho
mas não terreno eu que siga
a disformidade a mim de fato
em reconditos espelhos convexos
refletindo paradoxos
impretéritos
não perfeccionistas
que riem metalinguisticamente
ao errarem a fórmula certa da poesia

- nunca fui bom com os números.

quarta-feira, 28 de março de 2012

ode aos vagalumes


em vias de fato
vias respiratórias
imploraram por sossego
contra-mão
cuidado em sinais de fumaça
fogo que lhe queima face
agora apaga
esmiúça lentamente
o que foram as grandes mentiras
nada de mais a dizer
a velha história
em papeis enrolados
celulose e acetona
delicados movimentos
apertaram-se em cinturas
olho vivo-morto
vermelho sangue
escorre reboladamente
em lágrimas cintilantes
reluzindo verde fluorescente
ofuscam as percepções
olhe atrás de sua cabeça
eles correm em perigo
queimaram os dedos
em amor aos vagalumes

circuito interno


rabisco em tantos cadernos quantos forem
todas as descrições do saber
não preciso saber
tudo passou de mal entendido
desentendimentos e semelhanças
duas palavras adoráveis
as cicatrizes
em meus pulsos malditos
dedos cansados de doer
esperam o tempo que for
no que digo da boca para fora
no que penso em dizer
roí todas as minhas unhas
e ainda não são nem quatro da manhã
acabaram as luzes
e vozes que assustavam as crianças
correndo soltas por caminhos opostos
ruas e avenidas
criei direções contrárias
fiz de fato 
pouco caso da saudade
conversei com ela em silêncio
as imagens circulam
em televisores coloridos
o que nada esteja em baixo dos tapetes
tanta sujeira e nenhum aspirador
digo calado o que quero ouvir
mesmo que voz minha não reconheça
amarei a tantas pessoas desconhecidas
estranhos e suas faces censuradas
mas sempre volto a mim
sempre pelo caminho menos longo

sábado, 24 de março de 2012

vermelho sangue

tentar a passos tortos
dizemos palavras
em baixo calão
moradia obscena
cantamos em rua
amarguras de corações cansados
desgostos em unha
fraquejando aos poucos
sorrisos forçados
destinamos ao acaso
vozes doces
em ouvidos de noite
na calada que grita
choro de peito meu
é alegria que conforta
o passado

quinta-feira, 22 de março de 2012

saco de papel

embrulhada para viagem
correria de nervos peculiaridades
tormento que acalma e ri
de rostos colados
em eterno regozijo
deleitando-se em sonhos
sonhos poéticos
de carne e sensações extra pessoais
a virtude da ansiedade
arde aos filamentos
dentro de cada recanto
átrios e ventrículos
a sintonias
encaixes talhados
em perfeição
com os pedaços de felicidade
espalhados pelo caminho
guiaram-me direto a teu sorriso


terça-feira, 20 de março de 2012

o poeta


disse o velho poeta:


"escrevo sobre campos floridos
manhãs ensoladaras
o perfume das tulipas
crianças correndo felizes
sorrisos despretenciosos
sobre bolas de gude
e amores correspondidos
todas as cores
em um desenho delicado
sobre olhos que brilham
e o bom de estar vivo"


mas nunca sentiu isso
sempre mentiu
e sonhou acordado

horizontes


chegou mudando tudo de lugar, os móveis, o tapete. atirou o tapete velho e imundo no meio do quintal. andou até a cozinha. abriu os armários. foi retirando os copos de ervilha um a um e os deixou cair no chão enquanto sorria o mais doce sorriso. abriu todas as janelas, fez de gato e sapato a escuridão. ateou fogo nas cortinas. 


-levanta daí e vai ver o dia como está lindo.


e todos os dias foram mais ensolarados dali pra frente.

domingo, 18 de março de 2012

arquivo reutilizável


gavetas entreabertas
escondem sigilosamente 
vontade de perder para sempre
derramando em cautela
liquido solvente emulsificado
tomou em cuidados
tudo de escondido
a perdições e afagos
nudez e displicência
ternura travestida em prazer
vértices despostas em vertentes
decidem morrer de repente
rastejando em sexo
ideologias baratas
sangue e reticências
desculpas retilíneas
na vertigem inerente
do gozo aos prantos
cansado de se esconder
em círculos fajutos
dispostos a trilhas simétricas
condizentes aos momentos
sempre insuficientes
construí-me diferente

sábado, 17 de março de 2012

giz de cera


indescritivelmente momento
espontaneamente
abriu as portas
nuances em tons pasteis
delicado perfume
de flores e espinhos
prosa aos versos
ingenuo desconhecido
sorrindo palavras
em solfejos escondidos
ao lugar de origem
intocável desconhecível
exogêneos movimentos
sinestésicos
neurônios
cantaram vozes doces
em deliciosas substâncias
intra-celulares
línguas magnânimas
concordâncias inesperadas
colorindo a giz de cera
detalhes e rabiscos
uniformes

sexta-feira, 16 de março de 2012

(re)cortes de navalha

vias respiratórias
carregadas
em exessos retrógrados
sofrimento acalma
penosos castigos amáveis
adorar-se-iam
lubrificando olhos
mãos e corpo
despidos
vestes de sangue
escapulindo-se
na desistência da espera
amontoando as sombras
sobras migalhas
sonhos e desesperanças
indecisões tiradas
própria sorte
indevida imprecisa impessoal
orgulhosos da vergonha
carne carregada de impurezas
defeitos notáveis
gênios afiados
atirados em sarjeta e pecado
acenando o vazio
suspirar desejos
soterrados em luxúria e cuidados
trancafiados
em averso à sociedade
saciaram bocados
boca a boca
de tantos raciocínios lógicos
revigorando em gozo de outros
escondido em chaves
sorrisos carregados
de cinismo e navalha
deixaram escapar
saudade

quinta-feira, 15 de março de 2012

lápis de cor

em mãos frágeis e trêmulas
veio acariciando faces
abrindo portas e trejeitos
desnecessariamente
cobrindo a nudez
em olhos recatados
recolheu os vestígios
escondendo catarse
em cores sóbrias
frios cobertores
aqueciam sorrisos
tanto que fosse
minuciosa simétrica
um ou dois mais talvez
pequenas estantes fora do lugar
arranhões e saliências
amor ao próximo
doces sensações de vazio
trancadas a caixas e pregos
fez-se o mundo descolorido
recolorir
-se


quinta-feira, 8 de março de 2012

maquiagem infra neural

maquiando-me expressões
recinto em cantos e recantos
ao destemido conhecido de antes
fascinado em medo e luxúria
olhares e vulgaridades
saídas rápidas 
por detrás de costas largas
ombros amigáveis
esquecíveis
engolir-se-ão todos
desencantos e verdades
arranhadas garganta abaixo
pequenos descuidados
em marcas a carne viva
das letras carregadas
em amor e lascívia
atiram contra vontade
cambaleando em casa contrária
muros murros murmúrios
abstratos guiados 
imperfeições em perfeita ordem
re-ordenados


quarta-feira, 7 de março de 2012

calmaria

um gole
para curar a dor
em peito que vazio
transborda
mãos não já tremem
mais
arde o céu em vermelho
garganta
lágrimas e desabores
amargos
a pouco recanto
acalma-te nervos
nervos raivosos
felicidade acostumada
com fumaça de cigarros
e ressaca








letargia

insaciável insônia 
em lugares aproximados 
visões do futuro 
turvas feito água de barro 
e molduras detalhadas 
mãos que afagam e pecam 
flores e cheiros e tragos 
abrigados em sensações 
anestesiadas 
confortados em cama 
lençóis e aparatos delicados 
nos sonhos impermeabilizados 
guiando-se em feixes fluorescentes 
prazeres materiais 
sintéticos e vibrantes 
desencadeando energia vital 
átomos e membranas 
das verdades que enganam 
amansam em colo e ternura 
a quem nunca sonhou acordado





sexta-feira, 2 de março de 2012

pronome pessoal

pernas trêmulas
descalçando
entendimentos e ternuras
mais um pouco
desinibindo proteínas

em amor
às paredes










reflexologia

em pele e reflexo
encontrar-te sombra
escondendo em cantos
pequenos movimentos
descontrolados
acertando acasos erros
amor ou outras baboseiras
em cada sorriso
avistar em lágrimas de partida
o desejo que castiga
em diferente similaridade
aos ombros e ternuras
sapatos usados
cadarços desamarrados
passo a passo
aquecendo-se em cigarros
em toque recolher
os cacos
simetricamente espalhados
pelo chão