quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

novela das oito


mudaria para depois de amanhã o apocalipse
mas isso não faria sentido
nem seria tão descolado
o mundo é pequeno demais para uma segunda chance
temos espaços vazios e algumas idéias
ser ou fazer tudo certo dessa vez
eu vejo através de uma lente de aumento
todos os minúsculos espaços não preenchidos
formam um tipo de imagem assimétrica
não significa nada demais
mas ainda assim queremos fazer direito
e nem somos tão legais
com essa história de sustentabilidade
aquele momento chato
se torna um tanto insuportável
tentamos carregar nas costas
o peso de nossa falta de responsabilidade
mas fazemos parte do núcleo problemático
aqueles que morrem ou caem no esquecimento
a história não tem mais espaço para nós
gastou todas as folhas de papel
com os vagabundos e mentirosos
que já nasceram velhos
deixaram um pouco de sujeira 
que varremos para debaixo do tapete
mas ela ficaria ali tão bem
decorando as quinas e beiradas

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

retalhos denim


tudo era aquilo que eu poderia pedir
ou não recusar
não recusaria afinal
guardaria para sempre
melhor sairmos antes da chuva passar
não temos endereços ou relógios
um maço de cigarros
todo o tesouro que pudermos carregar
um isqueiro
algumas moedas
tudo que podemos roubar
perdemos a hora 
e o que passado foi 
não faria mais efeito
e só nessas horas 
em que eu deito no chão 
sem deixar cair uma gota
tenho que acostumar
por alguns minutos
com o barulho de vidro se quebrando

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

por que junto sem acento


naquele guarda-roupas velho
esquecido no canto de lá da parede
mofo e naftalinas baratas mortas
elas faziam de tudo para sair
e a moldura na parede esqueceu 
de todas as fotografias reveladas
não eram preto e branco
esse tempo já passou

por que aquele frasco de remédio
sempre muda de lugar e esvazia aos poucos
alguns dias mais rápido que os outros
o frenesi e o fiasco de se tentar sorrir um pouco
nem era funcional ou importante
exercitar os músculos da face
só com cigarros e copos cigarros copos

e algum motivo em alguma carta perdida
para levantar e jogar o cobertor de lado
no chão ou arrastando um pouco no chão
não por inteiro
sair e calçar os chinelos
sem tirar as meias
muito trabalho para poucos resultados
sair e levantar e fazer um café
simplesmente aproveitar o dia
nada demais
depois deitar e dormir de novo
sem tirar as meias

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

esfera de vidro cheia de água e neve artificial


pequeno mundo imperfeito em detalhes
modos e cuidados largados nas calçadas
as noites e os mesmos efeitos anestesiantes
as horas incontáveis de palavras escritas
o grito amargo preso indefeso
no que fazer ou pensar em dizer
os sorrisos e todas as ilusões
em um frasco refratário esterilizado
em cima da estante
na prateleira mais alta
um mundo inteiro de brinquedo
que neva quando virado de cabeça para baixo

domingo, 2 de dezembro de 2012

desconstruindo a insônia


se dormir fosse no mínimo importante
as horas de sono fariam todo o sentido
diferentes eram sonhos e vontades
realidades e fatos e desacatos
os medos descarados e o chão que mergulhamos
em toda cordialidade
nossa falta de sossego crônica
daqueles momentos que voltam e ficariam para sempre
se não fossem apenas momentos
seriam todos os outros significados de qualquer outra palavra
ainda assim teríamos onde dormir e acordar
se fosse preciso ou bastante pertinente
dormiríamos até de tarde

o último fumante da terra


nas impossibilidades mais descuidadas
que aprendo minha falta de habilidade
encosto nas fáceis banalidades do acaso
acendo um cigarro e espero qualquer sinal
um isqueiro nas mãos certas
pode ser muito mais do que um simples isqueiro
pode ser uma fábrica de fogo
uma fábrica de sonhos
até quando acabar o gás

boca boca boca


come com os olhos
fala com os cotovelos
sorri um sorriso
que sozinho por si



sorri

terça-feira, 27 de novembro de 2012

inflatable god


the instruction manual on the shelf
discount the unnecessary parts
and how much imagination wasted
lack of charisma and weak of character
the radioactive energy transformed into dust
in the lead up to the eternal salvation
among unfinished dreams and rubble piles
it was safe and not so cold
the world shattered into pieces
i wonder how i got here
never through the long way
it is much longer
and we are too tired to walk
but there are shortcuts
and some tips on how to get further
but they do not explain a lot
so the best thing to do
sit back and wait for the sky to fall on our heads
and all our prayers on an inflatable God
with rubber fingers
and bad ways
to sit down at the table
it all crashes to the ground
the floor is the limit
and there we will sleep and love all the rest
because not much would be left after all

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

dois lados duas moedas


pode não ser verdade mas tudo bem
não tenho nada a perder a não ser o rancor
os moldes e exemplos mal formados 
teria a deixar para trás
armas de fogo e próteses dentárias
sorrir custaria muito caro
muito rosto e delineadores
e ainda assim não mudaria de ideia
nem em chance esperar o apocalipse
consideraria de fato interessante
do que fosse possível
era cansar demais as palavras
e nada disso traria conforto
soubesse para que lado correr
correria para o lado oposto

os filhos da tecnologia


eu não escuto a minha voz
ela se foi com a porra das horas
passam rápido e deixam vestígios
os sorrisos servem apenas para mostrar os dentes
quem pode ornar a boca de palavras e merda
dentes servem para mastigar
ranger e chorar e implorar por algum tipo de perdão
nenhum motivo agravante
que acabe por si só
sozinho e lamentando as perdas e cáries
veremos talvez um muro cinza e umas pessoas babacas
estão em todos os lugares
decorativos e adestrados
não queria livros na estante ou videogames
nem bocas e cáries e aneurismas
simpatizante do acaso inacabado
simetricamente desestimulados
ainda não inventaram a energia necessária
rir e foder a paciência de todos
lamber os dedos e a tampa metálica
vesti o prazer em poucas palavras
escondendo vergonhas e fracassos
tudo isso em troco de nada
algumas balas de menta balas
derretidas no bolso do pouco e ali e aqui
era ali o canto silêncio e o fato consumado
consome e queima como acreditasse no inferno
e no inferno dormir eternamente
com toda a preguiça que resta
toda a incerteza que basta

o penoso labor da fabricação de mel artesanal


a falta do que fazer não poderia ser tão ruim assim
era o ar que respirava e as partículas impuras
a saudade do que jamais houve de acontecer
haja o que fosse era tudo da mesma moeda
nem uns trocados a mais nem um pouco no bolso esquerdo
do outro lado os cigarros e um velho isqueiro azul
cor do céu que nunca tinha visto tão de perto
chegar lá cansaria demais 
era trabalho e isso não é fácil
e a cada hora a sombra que mudava de lugar chegava longe
quanta pretensão e costas e ombros largos
carregava todos os fardos da sua humanidade
um pouco mais de tempo e a eletricidade faz o seu papel

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

erro de digitação


todos os artifícios que fazem esquecer
já não faço contas e não conto histórias
me restaram as mentiras e alguns sonhos
tudo sem importância 
ou relativizando o conceito de importância
nem existem ou fazem parte de alguma coisa
pode soar vago ou sem o menor sentido
abre aspas coisa fecha aspas 
palavra essa que serve para tudo
mas no fim das contas
não quer dizer nada
como se eu dissesse
que naquele canto escuro
atrás das teias de aranha e manchas de mofo
escondo minha ignorância
não repare na bagunça ou no estojo de maquiagem
com o tempo nos acostumamos as piores posições
e de se acostumar ou ter medo da morte
exemplo de oração subordinada
oramos a um nada barra falta de luz barra 
onde os satélites não alcançam
criticamos os que olham e vêem o espaço vazio
e repudiamos tudo aquilo que ainda é desconhecido
e até se fossem telescópios que enxergassem
aquele canto escuro
não nos mostraríamos por completo

terça-feira, 13 de novembro de 2012

colar de ossos


nos tornamos máquinas pintadas de preto
em um dia ensolarado qualquer
todos os dias não passam de um vazio eterno
um fundo de verdade em cada sorriso amargo
outras formas de vida que não respiramos
os fracos não tem vez por essas bandas
seguiram o curso da história e fizeram a sua parte
ofertando suas cabeças aos deuses

choro que deixa o rosto coberto de fuligem
deixa para lá esquecido em meio a tanta gente
passos apressados em direção a enorme mandíbula
somos todos devorados por dentes metálicos de lobo
nossas peles perderam a proteção
e não passamos de cordeiros morrendo de fome
a espera de mais uma migalha de pão

faz de conta e conta a distância que é preciso percorrer
até encontrar a superestimada felicidade
ninguém precisaria de tudo isso
um afago ou alguns dedos a mais ou minutos
tantos cadeados em portas e janelas
o caminho mais seguro fica para o outro lado
e ainda assim precisamos envelhecer cada vez mais

queremos ternos caros e viagens sem sentido
tanto fazemos isso parados em qualquer lugar
pelo menos um cigarro
para trazer de volta a velha autoestima
de que adiantaria o pigarro
sem que nos sufocasse 
com seus dedos entrelaçados na garganta

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

cabeça abandonada


o tempo passara desesperadamente
foram as cinco da manhã e fazia um frio do caralho
do que estariam preocupados os grandes pensadores?
nada na televisão ou outra coisa qualquer
faziam de contas os cálculos diferenciais integrados
e nada daquilo lhes servia para porra nenhuma
freud estava lá
era um merda em matemática
não precisava pensar
apenas dizer um amontoado de bobagens
nietzsche e seu velho hábito com as putas
bom de palavras e igualmente preguiçoso

os relógios digitais ainda são os mesmos
arthur rimbaud inventaria novos relógios e os penduraria no pescoço
cantava uma bossa nova pelo canto da boca
puta merda onde enfiaram a minha bebida?
alguém tocou a campainha
isaac newton
não aceitamos estranhos aqui
quais livros você já leu?
gosto de fazer contas e algumas paradas de física
esse não é o seu lugar
fecha a porta
ta um frio do caralho

mas para que essa mania de bukowski
escrevendo um monte de palavrão
coisa ridícula
falemos baixo
e em outro tom
língua dos diabos
três vozes da mesma garganta
falar baixo para que?
os intelectuais ali no canto
eles acham que são os únicos aqui

e essa merda não é nem um poema
mas tem cara de poema
pula linha
outra
essa babaquice toda
vai ler um pouco de fernando pessoa
vai

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

resina sintética


as vozes calaram para sempre
eu posso ver tudo daqui de cima
apenas uns lapsos nervosos
correntes elétricas passam com pressa
terminações e ligações diretas
as lâmpadas acesas e horas inacabadas
e a vergonha de sentar e sorrir

vi com meus próprios olhos
emprestados de uma cabeça enorme
entalhada em barro e madeira
um bocado disso e daquilo
em câmera lenta e desfoque

eu não ficaria aqui nem mais um segundo
estava tranquilo e o silêncio era uma merda
o caminho cheio de pedras 
mas o chinelo aguenta
borracha e resina sintética
tudo foi criado antes desse lugar

eu não poderia me ajudar
algumas pessoas são facilmente enganadas
estagnadas e ficam lá
horizontalmente reclamando da cortina
ela não esconde a janela inteira
e o sol sempre acha um buraco
e é um pouco agradável
não muito nem o suficiente
mas nunca trocam a maldita cortina

poderia ser pior mas que se foda
andar e se perder não é tão ruim assim
para isso existem as bussolas e mapas digitais

domingo, 21 de outubro de 2012

música para testes de colisão

tocaram as primeiras notas
um passo atrás do outro disse a bailarina
vamos dançar pelo chão molhado
manchamos nossos vestidos floridos
não poderíamos nos casar
os assentos enfileirados presos devidamente confortáveis
regulagens moduláveis de altura
o preço que se paga por um aquecimento automático
deixe seus pés sobre a cabeceira e reze por mim
eu costumava repetir me disse ao pé do ouvido
você não sabe saltar
não sabe pairar no ar
tua graciosidade conta as piores mentiras
e deixa de lado os sapatos acolchoados

impacto

aquelas marcas radioativas estão em todos os lugares
as dobradiças de chumbo e portas de vidro
separam de nós a excepcional realidade de se acidentar
correr riscos os sabores que escorrem pelo canto da boca
em formas e cores de mel e conhaque gelado
não devia dirigir assim
mas só sobreviveria longe demais daqui
cantando a música suave e amanteigada
perfeita para testes de colisão
nove vezes catatônica 
se fizermos as contas
colidimos oitenta e uma vezes e ainda não sabemos dançar

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

delicadas doses


benzodiazepínicos e a promessa de uma vida feliz
sorria para as câmeras o céu está lindo demais
dentes para fora da cama o pé descalço e as meias
as veias saltando pela janela aberta que venta
acalma o couro usado de nossos lençóis
os cigarros calados se apagam dedos gelados
lança perfume perfurante cauterizante 
carregado de remorsos
seis tiros de mágoas e palavras de amor
o peito aberto afago chora e sorri
lembra das horas perdidas de sono alucinadas
embebidas em éter e fluidos corpóreos
as doces mentiras anêmicas as delicadas doses de morfina
pule pela janela e saia correndo
perca o sentido e as direções as estações
o trem já vai partir
partir 
repartir
retribuir
querer demais
sonhos ou esperança
só tentar dormir mais cedo
antes da hora
antes de cair da cama
antes de ir

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

fragmentos teóricos do cansaço estrutural


contentes com seus pedaços de pão
as piadas nem sempre são as mesmas
mas o circo vagueia
de cidade em cidade e bate portas e espalha cartazes coloridos
são tantas cores diferentes
tantos apetrechos gravatas e abotoaduras douradas
o reino da ignorância é o paraíso perfeito
(es)colhido à dízimos e promessas ocas de santo
santo de madeira cara de pau 
andam de ônibus para não gastar os calçados
vendendo um pedaço do céu
mas as nuvens não estão lá

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

a desordem dos românticos


uma arma na mão esquerda
a que propósito se diz adeus?
fumaça que cheira transparente
nenhum tom de cinza
onde foi parar a porra do céu?
estamos todos na mesma merda
merda inacabada maldita
a desordem dos românticos
que se exploda em mil pedaços
bum!
que barulho é esse?
deve ser o cachorro
cão que ladra não morde
morre de fome
anda em círculos antes de sentar
gostava tanto de sentar
mas não era o suficiente conforto
que nos deixasse assim
deitados pouca roupa nenhuma luz
queimados os restos espalhados de pano no quintal
sorriamos com um pouco do canto da boca
enquanto os dedos perfurados
acusavam as pobres roseiras
foram tantos os cuidados
demasiados de propósito
sem por que ou com acento
circunflexo convexo
é só o reflexo no espelho
não tem nada mais aqui

terça-feira, 25 de setembro de 2012

meio-fio


olho para os dois lados antes de atravessar a rua
o semáforo desdenha seu reflexo avermelhado
gotas de sangue espalhadas pelo chão
o choro dos pombos e da falta de migalhas
na calada da noite
as vozes que falam mais alto
gritam berram esperneiam
tantas palavras rabiscadas com unhas postiças
e ninguém para ouvi-las
não há carros ou mendigos ou abraços
rostos passam correndo
para onde foram as despedidas?
longe demais
no fim das contas
a calçada é a única companhia

terça-feira, 18 de setembro de 2012

estirpe beatnik


se a verdade fosse ao menos 
encarregada de consigo aos pedaços e canseiras
costas largas e ombros frágeis
empunhar a navalha de fio cego
olhos vendados e as mãos suadas
taças de vinho sobre o pano manchado de sangue
o que a boca teria a dizer
as narinas de fumaça o pouco ainda do ultimo cigarro
a luz apagada nada faz parecer noite
sem sombra de dúvidas e sol
amanhecer fica para depois
o sufoco que tosse e ri
do próprio retrato parado no espelho
reflexo
convexo opaco mal acabado
embriagar em doses praticamente letais
um pouco mais talvez
cortariam 
mostrariam caminhos
a frente além de passos largos
os ossos que tremem de frio e medo
resquício de uma vontade passageira
que nada acontece ou acaba
ou existe por um motivo
motivo de lágrimas e pudores forjados
lembra que ao andar no vale das sombras
temerás apenas a si mesmo

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

roda da fortuna


a mesma descrição de sempre deferindo fracassos
indulgências e ternuras disformes
ao pouco de fraqueza que ostento em pernas
nada demais irrisório e desesperado
apático sorriso desmiolado sem olhos e braços
os erros são mesmos e sem vontade
e a vontade do vômito volta a garganta
leiam-se mãos e o futuro assombrado
mais um farsante em meio a tantos rostos cansados
todos mentirosos e metidos a besta
e o que resta é suficiente
ou que desnecessário o seja
seria de qualquer forma
o mesmo de sempre

olhos esbugalhados


o faz de conta a falta de vontade
a verdade mascarada em pequenos detalhes
luxuria que esconde em ódio e vingança
vingar as lágrimas e linhas tortas
a beleza que se foi e perdeu o rumo
mandou flores no dia seguinte
onde sobraram as horas perdidas
o estomago vazio e a boca cheia de orgulho
segurando gofo entre os dentes
e se acreditasse em destino
o que faria por aqui?

nada disso saberia dizer ao certo
os ventos gelados em nossas narinas
acreditariam em qualquer respirar
as mãos tocassem as mãos e não dizer adeus
mas sei que temos razão para partir
motivos de se estar por esse lado de cá
onde estão todos os outros olhares?

faz de conta e reconta carneiros mortos
suas cabeças penduradas a sangrar
e ainda assim o não dormir
aqueles olhos esbugalhados
sonhar dói demais

cortina de ferro


e se fosse a televisão ligada
o som calado e quantas palavras
o que dizer sem nada na ponta da língua
os trejeitos e mecanismos de defesa
calados estaríamos de qualquer maneira

faltamos com o orgulho e o que demais
nada nem umas folhas amassadas de papel
o poema dos mortos descansa
quantos passos andar ou enterrar-se debaixo do solo
a terra sagrada arde em falta d'água

abro a janela e aqui dentro
as cortinas são os melhores esconderijos

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

mecanismo orgânico


a verdadeira vontade que satisfaz
o ego sujo e imundo
deita-se cabeças e colos em ombros perdidos
perdoa-se o sangue que escorre dos olhos e narinas
a corrente de ar prende respirar tanto lentamente
o que a falta faz de fazer de conta
qualquer solução emulsificada
cadeias carbônicas deixadas para trás
de mim restaram os benzenos

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

alcoólica felicidade


a verdade que encosta mão geladas afagos
mordidas e dentes cariados gritam por um pouco de pudor
o que se foi embora ficasse para trás
nada era suficiente ou importante
importaria o cuidado e a vontade da morte
o medo que cala a boca e acalma
um delicado toque suave e o rosto estremece
faminto pelas mentiras e doses de rum
até o chão não ser limite e a queda certeira
uma vez a mais como sempre fez
fez de conta estar por perto
e ser o que demais se não sorrir
onde estaria a felicidade?
cansada de esperar em quartos e vozes erradas
amores ou outra palavra qualquer

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

o saborear dos ratos


aparatos delicados entalho ternuras febris
em armaduras de linho e cobre
o corte de faca que serra os punhos
as verdades suicidas jorram feito sangue
alimento-me dos minerais
querer demais e ter nada não ter
o caminho encontra sempre onde acabar
em troncos e pedras pontiagudas
escravo de uma singela amargura


nada ter ou ser alguém se mesmo fosse
seria o que afinal?


quantas horas perdidas em desencanto
palavras doces acusam as cáries
a culpa é de quem colocar
primeiro as mãos
depois toda a fragilidade aparece
destilada em taças de vidro
se fingir pudesse ser
muito diferente do agora
a sede que mata transborda
e os ratos fazem a festa


sirvam-se o precioso banquete
foram as carnes e o desespero entalado na garganta
a melhor parte fica para depois
do coração seus átrios e ventrículos
lembranças sempre morrem no final

rascunhos precários


por que trouxeste esta dor?
a mim pertencia pouco demais
ao descaso e desuso desilusão
que engano se falta de atraso
falta de hora e de vontade de começar
arriscando um sorriso homeopático
fado em pequenas lembranças
as poucas amarguras em bolsas ecológicas
gastamos a natureza e dela a morte
natureza morta desintegrada
concreto e rabiscos de tinta sintética
não se for esperar o suficiente
espera o singelo obrigado
até amanhã
não amanheceu
o sol de tão frio morreu


o dia não chega nunca
e já são cinco da manhã

terça-feira, 24 de julho de 2012

em troca de cartazes luminosos


o que servia tão desigual irresponsável desnaturado
afetado a mente que rouba sensações e cansa
descansa em buracos e penetrações e guimbas de cigarro
repulsa e vontade de vomitar e no fim que se chega
concluo despretensiosamente a mesma coisa repete
sempre repete como que nada acontece de forma diferente
redundante e sem anseios e outros desejos ou sonhos
inalterados inacabados acabo como sempre ei de terminar
ei de que eu que não sei de muita coisa sei de tudo
e com o tempo caduco e repito e recosto em paredes
ornadas com o mofo que cresce e se espalha e gruda na roupa
o acaso desmente todas as minhas verdades
já muito servem para pouco ou esterco
mas não tenho jardins ou hortaliças nem terra
nem espaço para morrer ou sonhar que se resta
preza e paga o preço por ser demais contrário
que nada passa de uma ilusão como qualquer de fato
e de repente canso ou cansaria de tudo e quereria nada
iria querer um pouco de olhos e mãos e bocejos
querer tudo em mesma cama
mas sempre hei de estar em camas erradas

quinta-feira, 19 de julho de 2012

contradição epistemológica do desconhecido


em fração de segundos ou tempo desnecessário
a verdade que acaba de existir 
não existe nada demais
qualquer palavra que se repete
a cuidadosa vontade de errar
continuando em caminho contrário
castidade entrelaçada em braços e apertos de mão
moralmente duvidosos
acaso que faz o destino vomitar
em sacos de papel reciclado
sem destino ou onde morar morrer sorrir e deitar para sempre
caso contrário contrario todos os âmbitos descompassados
colorindo o sorriso com tinta lavável
em boca fechada
prisão perpétua castigo
a loucura de aprisionado em um futuro impossível
se existe o destino
o filho da puta é cínico e sociopata 
caricato retrato abstrato 
do que não poderemos existir
ser ou viver em outros olhos e retratos
escondemo-nos do acaso
debaixo dos nossos perigosos afagos
o veneno deixamos escorrer

quarta-feira, 18 de julho de 2012

rediscutindo os palavreados anamórficos do amor inexplicável


verossimilhança descarada em partes diferenciadas
cada momento da calada boca fechada
calada da noite e frio que venta o rosto delicadamente
espontaneidade que não nos falta ao acaso
da verdade da boca pra fora de boca a boca
rezamos em silêncio e condenados outros corpos
fingimos estar tudo em lugares exatos fingimos 
e não somos atores


prateleiras e seus inimagináveis adornos ordenados
lado a lado com a dualidade de ser ou nem existir
diferente de novo de nada acontece ou serve ou presta
estragados em arcaicos recalques sócio-econômicos
venda nos olhos de quem vê e finge saber demais
e fingimos cada dia que passa noite que passa horas
nada que vá acontecer nem promessas e nada


água para saciar a sede
e a fome do desconhecido
apavora e grita choros ininterruptos que assolam
o menor sinal de descuido e ruídos e pouca luz
saciar o impossível impensável que não arrisca demais
tentar outro sorriso plastificado
nosso velho sorriso fracassado


e nada servirá de remédio
que nos faça parar de rir

terça-feira, 17 de julho de 2012

póstuma melancolia confortável


a serpente rasteja em silêncio
sugando as canções de ninar
dentro de sua doentia cabeça de cobra
escamas e epiderme 
claustrofobia
caixotes e poeira
um penoso respirar
arde como tocha de querosene

as crianças queimaram os dedos
entraram sem bater
desprezaram o sinal de fumaça
sinos de vento e aparatos religiosos
condenaram um deus de carne e osso
ventre e barro ressecado

acomodaram cansaço em velhas poltronas
forradas em couro vermelho
castigo e medo de algo que ficou para trás
ninguém conhece ou finge não lembrar
que seria do agora sem as lembranças?

conhecemos o homem que vende segredos
recostado em pilhas de cal
com seu sorriso sujo e enferrujado
os dentes amarelados não esqueceram
tanta cafeína indo por água abaixo
estimulantes e horas perdidas

cubrimos os corpos com moedas de ouro
e vendemos nossa alma ao primeiro que passou
com um mapa em mãos jornais e recortes
felicidade duradoura não se encontra
em sacos plásticos ou palavras confortáveis

com a macieira conversamos
sobre histórias do fim do mundo
oferecemos explicações
lentamente pacientemente através do ar
pouco de ar e da falta de respirar
respiramos por tubos e frascos
fracos de caráter e determinação
dormimos no mesmo lugar
dormimos

segunda-feira, 16 de julho de 2012

doses homeopáticas de sabedoria quântica


finquei raizes em solos inférteis
destreza e margens de erro
rios e ruas de sangue
sal escorrendo no rosto
lingua afiada buscando conforto
em mentiras e segredos


o diabo morreu de fome
e pintaram quadros com o seu nome


de braços abertos
descansamos por acaso
na beira da cama
secretamos as velhas vontades
mas continuamos em silêncio


montanhas sobrepostas no caminho
o buraco marca o fim da linha
carretéis e emaranhados
a revolta assola as ruas sinuosas
na mesma cidade imunda
onde os sonhos se perdem do lado de fora


um pouco de empatia
me faria tão mal


nos olhares das mulheres
o fogo ardia ainda pouco
azulada melancolia
as saias e artifícios
cobiçando o mesmo de sempre
corpos replicados
falta de identidade
e de onde as veias saltam
os olhos nada tem a oferecer

domingo, 8 de julho de 2012

senso de ridículo


não faz tanto frio
para tremermos assim
temos medo da verdade
mas não cansamos de fingir
deixei as lembranças
deixamos
onde encontrei teus fragmentos
mãos
levantei e morri de inveja
o sorriso se foi tão cedo
o sol tentou seguir sozinho
luzes e holofotes
lâmpadas incandescentes
retrocessos
processos
braços pernas e direções opostas
perdendo o senso comum
destravamos portas e caminhos
Senso de ridículo e alarde
Afogando as mágoas
em lágrimas irrisórias
arriscamos o desespero
pouco a pouco pouco pouco
esperando lareiras e respostas
cansados de sentar

quarta-feira, 4 de julho de 2012

significado contrário

abrigamos aos jornais inúteis
as notícias de alguma felicidade remota
controle e despretensão
falta de proteínas hidrossolúveis
boca a boca respirando
o pouco que resta do ar
cilindros de oxigênio líquido
natureza natimorta morta
porta retratos trancafiados
em frágeis tubos de ensaio
duzentas e cinquenta e seis cores
em sintonia monocromática
onde a primavera se encaixa
engraxamos nossos sapatos
prepotentes e intelectuais
livros e cigarros caros
vaidade em espelhos sobre a mesa
a verdade sangra
mas nossos olhos ainda ostentam
a mesma falta de lágrimas

camas separadas


um cigarro queimando dedos
de manhã a manha da sociedade
escorrega garganta abaixo
o sol que não se queima queima
queima devagar e vaga sozinho
por um céu triste e inacabado
fim de longe avisto a olhos vendados
toda a letargia dos nossos taninos


para como nós os paradigmas
depressa a vontade de andar
em tortas linhas em desemboco
remexendo o fundo do poço
e a água é clara demais


taciturnas camas separadas
resguardam a agridoce verdade
os muros são altos demais
e não respiramos direito
muita fumaça e sonhos herméticos
e outras formas de esperança
guardadas para depois

domingo, 1 de julho de 2012

pluma de pombo


repensando erros
conjecturo certezas
cada vez silenciosas gritam
pensa pensa pensa
cérebro em greve
ordenadamente caótico
católico pragmático
não praticante
divino espirito sangra
repete mente mentira
repetidamente vozes
canteiro de obras
estética e interiores
detalhes em plumas de pombo
pombo que voa
e não larga o osso
filamentos e terminações
estações ambulantes
perambulantes
reconfortantes pensamentos
que pensam em dizer
o que tanto não dizem pensar

dados acabados



Sofri demais,
Falei mais do que queria dizer e disse adeus
Então a você, sofri muito mais.
E amei como nunca tinha amado e depois
Correr sem parar caminho do nada vou
vazio aqui onde você deixou, fiquei
fui embora de longe de você.
(te amei por pouco) talvez demais
amei a morte que você escondeu
amor, a morte é trágica demais para nós dois
se só pudermos nos ver assim, destino
ter de conta que faz o mesmo efeito
esclerosado anestésico paralisante
que tanto gostamos de sentir
eu quis querer você, tendo você perto de mim
perto demais te amei jamais amei por perto
desse jeito te esquecerei devagar
vou te amar mais um pouco mais (talvez não)
caso que não eu não sei mais
o que fazer sem você aqui, não farei
Meu amor me tire desse tipo abstrato
Estranho formato de solidão

sexta-feira, 29 de junho de 2012

por acaso


o desconhecido fracasso
no semblante de fracassado
arrastando consigo
sandálias e sufoco amargo
querendo o pouco do resto
do lixo do rato
o amor concebido
em forma de coito
sujo e envergonhado
o reflexo do corpo a nudez
acalma em lucidez
ver de longe o afago
estragado
medo de perder
perder o fôlego
não era tanto assim
descaso e dedos ranhuras
unhas roídas e portas
caminhos e lágrimas
perdidos tempos desnecessários
horas passadas e verdades
de fato o pouco que resta
ficou por aqui
por acaso

sexta-feira, 22 de junho de 2012

imunda castidade


deixaram de lado restos
rostos cansados de sorrir
força que se faz desnecessária
veias e cavidades abdominais
seu expurgo fracassado
olhos que enxergam além
no abismo desgraçado
a vontade de se perder
em meios e mentiras e descasos
vozes sem dor
pelo que é pouco
não satisfez as saudades
peso em consciência de outro
no corpo banhado de fel
a imunda castidade 
minúcias e sussurros
e dedos cobertos de cal


-


havia algo aqui
perdido
escondido
havia

segunda-feira, 18 de junho de 2012

bocas vulgares

as vozes insistiam em calar
quanto medo e lábios ressecados
deixa fora de alcance
a verdade absoluta
olhos vendados
não se fossem mãos
ofegante desconhecido
disse-lhe sem pudor
a roupas esquecidas em casa de outros
não quisera sorrisos ou cigarros
o que a quietude fizera perder
o rejeitado desejo
que escurece o céu de bocas vulgares
guarda chuvas magoas
água turva o veneno que escorre
bebemos demais do pouco
que o outro tinha a oferecer

terça-feira, 12 de junho de 2012

faces


o cansaço não é mais uma síndrome
importa-se ou não ter onde dormir
deitar-se-ia em escadas e recortes de jornal
queria olhos outros vendo a tudo redor
remelas guardavam-lhe a cegueira
teria pouco medo de cair
no que pudesse demais ser
ávido em escolhas errôneas 
endorfina e emoções sintéticas
resguardadas em falta de pudor


salva-me a pele e rostos


guardai-vos em cobertores e segredos
o profano intelecto corrompido
pela falta da vontade de viver

sexta-feira, 1 de junho de 2012

cru


ao que lembraram
a mente estagnou-se
em poças de água e fel
sentiram o cheiro das mentiras
dentes podres e amarelados
correndo perigo
correndo em direção ao abismo
não existe fim do caminho
buscando a salvação desesperada
o inferno é conforto que basta
o que há de comer?
os músculos da face
contentariam com o pouco
restos e pedaços largados de sufoco
cigarros e dedos imundos
catando a merda que esconderam
diante dos olhos famintos
por um pouco de cuidado e lágrimas
esqueceram de como chorar

segunda-feira, 28 de maio de 2012

reflexo embrionário


frio reflexo embrionário
sujo impermeável
apaticamente inacabado
sistemático 
complexado
perigosamente duvidável
pura verdade duvidosa
duvida ofídica
calorosa e cardíaca
dia se tornando noite
noite e dia um só tormento
tornando cada momento
velha insanidade duvidosa
duvida verídica
vaidosamente questionável
repetindo a falta de destreza
das mesmas verdades mentirosas
repetindo

domingo, 20 de maio de 2012

intencional


deixando de lado as boas intenções
as palavras fugiram correndo
medo e doses amargas de sufoco
descendo gargantas e suspiros
o mundo escapou entre os dedos
frios dedos solitários
sem nenhum enfeite
fossem as unhas
a resposta para as noites mal dormidas
tossindo e cantando marchas de carnaval
a banda não toca mais
migalhas saciam as aves


- o tempo passa


cansaram de restos
farelos e nada demais

quarta-feira, 25 de abril de 2012

xarope antigripal

não pensar em nada
insistiam as vozes
em doce melodia
de cáries e exageros
olhos atentos
desperados
invejando calmamente
os passos curtos
direção ao precipício
arranhões e lágrimas
não estragam a maquiagem
impermeável
como as mãos
que deixaram escapar
poucos segundos a fio
endorfina anestésicos
quis querer sossego
em caixas de fósforo
e xaropes para tosse
quanta pretensão
erradicando os velhos costumes
costuras e cicatrizes
marcas do tempo
passado que existiu
em contos de fada
ternuras herméticas
e compaixão dissimulada
em camadas estáticas
voltaram em direção
casa contrária a verdade
onde chamaram de lar
tapetes e boas vindas
aconchegando-se pouco a pouco
arbitrariedade em escolhas
as vozes se calam
quando sonhar e dormir
tornam a mesma coisa

terça-feira, 10 de abril de 2012

sonífero

olharam os olhos a mesma direção de sempre e deram a cantar suaves melodias em um francês arrastado doce demais em torrões de açucar mascavo. colorindo a dedos, telas de seda e pincéis, destinou-se a documentar o mundo. catalogando a cada espécie diferente, sorrindo em diante espelhos e rostos plastificados, não temeu a coleta seletiva. destino indiscutível, irremediável, não bio-degradável. absteu-se de cama e sono e amores passageiros e se orgulhou por um momento. quanto tempo não se divertia assim e as lembranças da infância lhe causaram dores brandas em cabeça refrescada pelo toque suave das cobertas e águas e saudade. precisou um pouco de binóculos de visão noturna para enxergar de longe os corpos desnudos e sem nenhum toque de vergonha ou pudor ou mecanismos de defesa desnaturados e roupas. repedindo o que sempre sonhara, o imperfeito é a melhor criação semântica. não existiram margens de erro em suas horas infindáveis de calculos diferenciais desintegrados e esfarelados. reconstruiu os sonhos, pedaços a cada um e molduras de madeira e verniz. dormiu. delicadamente belo, insansávelmente puro. dormiu.

horas passadas

destilou o veneno das sombras
e aqueceu em colher de prata
saboreando o borbulhar
em gotas de sangue e orvalho
orgasmo programado para começar
as sete da manhã ou de tarde
a noite não vai demorar
queria um pouco de confiança
mas recebeu uns trocados
doses de café
cigarros queimados
ouvindo o som pelas janelas
passos e pombos apressados
cuidando para não cair pelas beiradas
sacadas e quedas intermináveis
se protegeu do frio
cobrindo a nudez e o pescoço
com certezas e mentiras
escolhidas a dedo
dedos sujos de carvão e lágrimas
sentiu o amargor suave
e deixou de lado as vozes
que lhe insistiam em dizer adeus
deuses e santos de barro e gesso
detalhadamente pintados
toques suaves de vermelho e dourado
gostou das cores
do sol que nascia cansado
pronto para morrer de saudade
dos brinquedos guardados
em caixotes de papelão
do mesmo lado da moeda
estavam os rostos apagados
e os sonhos
que nunca voltou a sonhar

quinta-feira, 5 de abril de 2012

diálogo entre a solidão e o ego

grandes merdas, tu pra mim não é porra nenhuma. e tu que fica falando sozinho feito um maluco. mas eu tenho inveja de você. teria pena, mas você não precisa dessa merda. qual o problema em sentar em uma porcaria de uma mesa de bar e beber alguns tragos? não vejo merda nenhuma de errado nessa situação toda. tu que dizes não gostar da solidão. vou te falar um pouco de solidão. eu trepo com ela todas as noites e não estou nem aí pra isso que tu tá me dizendo. na verdade não te digo nada. diz sim, tu sempre tem uma merda pronta pra ser cagada, na ponta da língua. onde você esteve esse tempo todo? não te reconheço mais. estava no mesmo lugar de sempre. estou no mesmo lugar de sempre a trinta e seis anos. nunca mais te enxerguei. é que você é tão covarde que não olha nem para o próprio reflexo no espelho.

bolsa de mão

tinha algo no bolso e uma idéia na cabeça
arrancou o cérebro e ofereceu aos necessitados
guardando um pouco para depois
as sobras do dia seguinte
são sempre as mais saborosas
em pequenos pedaços e doses de sossego
deixou escapar o pensamento em dedos
dedos entrelaçados bailando em sinfonia
sintonia em ondas de rádio
repetindo os mesmos velhos passos
escada abaixo debaixo de andaimes empoeirados
feito macaco treinado para cuspir e morder
deixou as mordidas em frascos herméticos
termômetros e feromônios iluminaram o caminho
em seu sangue de mercúrio e cromo
sangrou até morrer

quarta-feira, 4 de abril de 2012

tornozelos

as portas se abriram e todas as verdades lhe cairam meio a pernas e colo atribuindo ao sexo sua vergonha costumeira. cansado de esperar em outras horas quantas fossem, em costas e mãos desconhecidas, desmentiu o fracasso e chorou lágrimas invisíveis. não chorou nem pouco o bastante que notaram a distância. carregando o fardo secular, sugando sua medula e ossos fora a pele, deixou escapar beleza de tantos sorrisos e vontades passageiras. mas a felicidade nunca lhe foi problema. nem remédio para a tosse impertinente. olha agora em olhos diferentes mágicos que acalmam brônquios, átrios e membranas. o filho que tanto esperava perdeu-se rumo em tempos contrários. escapou a dedos a razão metafísica, silencioso e conturbado coração que mágoas não carrega por nada. nem as grossas correntes que lhe arrancavam feridas a céu aberto em tornozelos fizeram desistir de tentar. quando outros lhe abriram barrigas e palavras doces em gotas de orvalho e saliva, o caminho melhor seguiu. oposto ao raciocínio, aos amontoados juízes da moral. se deliciou em maus costumes e gozou como nunca antes o fizera.

esperma evolucionista

o cigarro eletrônico queimou até a base
acende a apaga hora que quiser
nao gostava das coisas acessas
quando eram bem melhores no escuro
do outro lado da cerca
se vestiu de blazer veludo e couro
confortavelmente abanando o rabo
deitou com o rabo entre as pernas
quanta merda rabiscada
nas paredes e nos braços e mãos
stephen hawkings não disse uma palavra
o que fosse diferente do igual?
todos os medos e óculos de sol
protetores e bloqueadores
independente disso
não sentiu medo na pele
ou na carne ou em umbigo dos outros
quando o fogo que queima as sombras
afastando os passos
em seus devidos lugares pré-fabriados
sorridentes dentes e ornamentos
por entre as brechas que o separam
de toda a realidade magnâmica
dos amáveis castigos reutilizáveis
em singelos toques de recolher
que insistem em procurar
o esforço desnecessário
espalhado pelo chão

sábado, 31 de março de 2012

feições imperfeitas

avistou
em cortina de remelas
e cansaço
o mundo que lhe fez
malvadezas e minuciosidades
estatelando-se chão
cautelosamente
perdendo fôlegos e trejeitos
agregando conhecimento forçado
enforcou-se pescoço
temendo medo a morte
desacordando sonhos
fosse querer demais
em bastante nunca tocou
aqueles sorrisos
desejos bastardos
de pouco caso e sexo
selva de carne e restos
andou aos beirais
alimentando precipícios
moscas e desgraçados
bebiam de sua saliva
em cara estampada
desdenhou o acaso
salvando em partículas desordenadas
pequenas doses de saudade
da época em que sabia cantar
dos pés que tocavam o ar
agora carregado
irrespirável fumaça
das doses baratas
de esquecimento

dis-fórmula poética

vez a olhos meus disseram
que poesia se constrói
em análises matematicas
conjunto ao subjuntivo
carregada de tropos linguisticos
que a poesia é de concreto rígido
cimentos e tijolos ordenados
imagens contextuais
fatos lógicos e raciocínio
sempre os mesmos adjetivos
sentidos reprimíveis
atrele a importância
da escolha certa de palavras
em arames farpados
desenha o melhor caminho
mas não terreno eu que siga
a disformidade a mim de fato
em reconditos espelhos convexos
refletindo paradoxos
impretéritos
não perfeccionistas
que riem metalinguisticamente
ao errarem a fórmula certa da poesia

- nunca fui bom com os números.