segunda-feira, 17 de junho de 2013

Velas aromáticas

somos imagem e semelhança
acendemos velas de cheiro
aromaticamente
delicadamente
reflexo sufixo hermético
toque e recolha os pedaços no pelo chão
gostamos do reflexo no espelho
ainda temos algumas migalhas
não perderíamos o caminho de volta
somos realmente gratos pelo sossego
as vozes ainda insistem em dizer quem somos
escolhemos o mais difícil dos resultados
as horas perdidas de sono
nossos devaneios em segredo
por trás da tolerância medíocre
de quem nos quer por perto
louvamos um deus de brinquedo
com nossos cálices em riste aos céus
voltemos de encontro ao começo
ónde a humanidade
rastejará aos nossos pés

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Breve ensaio sobre o ego parte II

alma de poeta é o caralho
tenho alma de fumante
de beber na rua da amargura
sou de horas perdidas e noites de sono
de carne e fragrâncias vagabundas
relógio falsificado pendurado na parede
caindo aos pedaços
despedaço
eu já não choro há muito tempo
não tenho vocação para viciado
nem amo tanto o trabalho

serei esquecido quando morrer
e ainda assim não sou lembrado
não inventei porra nenhuma
escondo no bolso
tantos dedos amarelados
reclamando deliberadamente a fumaça

na hora de ir para casa
sempre esqueço o caminho de volta
e não me dou bem com atalhos

sempre fico um pouco mais
e se for extremamente necessário
eu durmo na calçada

Oração para abrir os caminhos

louvamos a nossa imagem no espelho
somos semelhança e desespero
medo irremediável do desconhecido
milagrosamente providos de inteligência
nossas cabeças de merda e medo
planícies serenas do esquecimento

não precisamos de desculpas ou preocupações
o mundo ainda é o mesmo de antes
temos salvação e um pedaço do paraíso
e pra lá aonde vão às certezas
esperanças perdidas

a nicotina perdoa os descrentes
os velhos e as tosses
noites
pigarros
queremos nuvens e um sol onipresente
desgraçando os corpos de todos no caminho
rasgados ao meio

temos duas caras
a mesma moeda nos compra e nos vende
obtemos os melhores resultados
ainda assim não escaparemos do inferno

quinta-feira, 13 de junho de 2013

fábrica de adubo orgânico

era um pouco mais de cuidados e horas perdidas
sempre em frente diziam os envelhecidos
amargamente em suas camas forradas de jornal
a corja dos ratos começou a sua cantoria
o som dos povos do outro mundo debaixo de nós
o roer estalado estraçalhado dos buracos abertos
as feridas veias e ossos

a carne corroída
suplica o perdão do deus subterrâneo

vontade teríamos de ficar até onde a mão nos guia
lamentar o medo do tempo
e não ter qualquer coisa de valor
que nos satisfaça perder

o banquete está servido
não morreremos de fome nem sede
dependemos de um conforto lamentável
injetável o sangue e gosto de ferrugem
nossa garganta ainda implora um pouco mais
fumaremos muitos outros cigarros
aprendemos nossas primeiras palavras
ensaiando a vida eternamente
prontos para o incansável
complexo
aparelho digestório dos vermes

# nova cara # atualização de blog

A partir de hoje o blog mudará de cara. 

cansei do jeito antigo, da cor da letra antiga... 

recordar é viver?

então... os velhos ficarão da mesma maneira, pois não tenho saco de editar tudo...

breve ensaio sobre o ego parte I

guardo o tempo em um corpo fechado
que não entra moscas
boca fechada
cala-te boca
lembra-se dos versos cagados
reclamo o que tenho satisfeito
o desejo amargo de ter desejos
a hora da morte
beira da cama
a queda
até onde enxergam os olhos
cansados de acreditar em si mesmos
desesperadamente acompanhados do medo
do escuro
do sossego
a falta de vozes e cartazes luminosos
o ser ou não ser ninguém
não ter nada para fazer
e para sempre
todo sempre
sempre continuar a ser
o retrato de alguém
que não conheço

Águas-vivas imortais

Não temos defeitos
Não tememos a morte e sorrimos para ela
Dançamos em volta dos corpos caídos
Desesperados por um pouco de compaixão
Somos frutos infecundos
De todas as mentiras do mundo

Guardadas em estantes e pilhas de ossos
A culpa por deliciar a boca em vaidade
Não há nada de errado por aqui

Consertamos os vazamentos e perdemos a chave
Desejamos um pouco mais de segredos mal contados
Temos tanto a esconder de todo o resto do mundo
De tantos rostos que escolhemos mascarar
Somos o que não querem que sejamos

Não podemos morrer
Negociamos nossas almas
Em troca da imortalidade
Deleitamos no veneno jorrado
Brindando o prazer maldito
De sermos eternamente jovens

quarta-feira, 5 de junho de 2013

senso de moralidade contemporânea

todos nós temos nossos próprios abismos
lugares seguros onde podemos
esconder nossos brinquedos defeituosos
nossa cara metade cortada ao meio
o mundo de todos os momentos
giramos tão depressa
em nossos próprios eixos
brilhamos em nossas vestes fluorescentes
dentes brancos e sorrisos para qualquer um
passando do outro lado da rua
movimentando a nós 
cansavelmente
procriaremos um paradigma imperfeito
fruto de fezes e medo
na sarjeta no escuro desejo de ficar
um pouco de abraços apertados e adeus
matamos a lua e enterramos seu cadáver
onde nossa moral 
achou lugar
não temos nada a perder
e tudo que ainda temos para ver
é um pouco de felicidade momentânea
não compensa os resultados
ainda ficou muito dos restos para depois
seguramos a mão de pastores famintos
que devoram ovelhas e lobos
deixaram um extenso rastro de sujeira
que usamos para lavar nossos rostos
de tantas maravilhas arquitetadas
próprias do ventre de outros
a sociedade nunca foi nosso pertence
deduzimos a verdade que ainda temos pela frente
tentando ganhar tempo suficiente 
e escolhemos ainda assim esquecer

terça-feira, 4 de junho de 2013

constituição primária

com olhos contaminados
vermelho
cor do manto que nos cega
distanciamos as verdades que acolhemos
estampadas em recortes de jornal

acenamos adeus
nunca mais
não temos lugar para ficar
nossa casa é de rua e noite
gastamos nossos cérebros
brincando de deus

somos feitos de outros
cacos e retratos falados
da boca pra fora
o céu está maravilhoso

os traços foram para sempre
não podemos controlar
morreremos engasgados na moralidade
que não nos deixa
voltar para casa

lugares não recomendados para guardar segredo

atenção aos decrépitos espalhados pela rua
soltaram os cães famintos sobre nossas carcaças
o que melhor nos descreve
daqui para frente tudo vai piorar
o medo da vida eterna
e uma bala ricocheteada em nossos dentes
um buraco aberto deixa toda a compaixão
perder de vista e viver às cegas
gota a gota duas vezes ao dia

cercas eletrificadas 

me eletrifique
me eletro mate de fome
minha boca está cheia de vontade
teu sono me aprisiona
ficaremos para depois de amanhã
e nunca mais encontraremos o caminho de volta

somos arremessados como uma pedra
expostos pedaços crus de nós
deixados para acalmar os olhos amedrontados
descem pelo ralo

desaparecemos por completo
cabeça e idéias vagas
o vazio acolhe nossos herdeiros

sem sombra de dúvidas
abençoamos o sol
para assim acordar mais uma vez qualquer
nenhuma forma segura de correr
nenhum lugar confortável para nos escondermos

o fogo queima
cheira a carne em brasas
o solstício dos sorrisos não gastos
usamos pouco de nossa felicidade
e servimos de alimento para o mundo